segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

NÃO FOI NO GRITO - 027



O DISCURSO por CIMA e por FORA  em

janeiro de 1812 e em janeiro de 2012.

Fig. 01 – O DISCURSO por CIMA e por FORA numa ESCOLA  de ARTES em JANEIRO de 2012 Nesta imagem é visível a infinita distância plástica e emocional entre as duas figuras femininas colocadas e separadas pelas paredes - de concreto - neutras e frias

O discurso por cima e por fora constitui recurso para dissimular o GRITO selvagem e primitivo. Tanto o grito como o discurso externo vazio buscam, como objetivo único e central, calar e evitar a realização de qualquer contrato honesto e consciente com seu interlocutor.  Quem ouve o grito ou o discurso vazio cala e consente por razões não declaradas.


Fig. 02 – O DISCURSO por CIMA e por FORA -do DOMINADOR - é ESCANCARADO em JANEIRO de 2012.  A CULTURA do OUTRO nada significa para o DOMINADOR de OCASIÃO. Pior, na medida em que os dominados cultivam o SILÊNCIO , a sua cultura torna-se perigosa e temida. A solução é eliminá-lo sumariamente e desqualificá-lo mesmo depois de morto para gerar, reforçar e alimentar o processo entre os colegas DOMINADORES  e assim reproduzir o seu PODER por tempo indeterminado. .
Le Monde 13.01.2012

Este grito ou discurso vazio prepara o seu próprio terreno. Para isto elimina, preventivamente, qualquer argumento da mente e do corpo de quem pretendia como vitimas políticas e sociais do grito e discurso alienante. O colonizador controlava mentes e corpos para dar livre curso ao seu esbravejar e arengas sem sentido além do poder puro e sem contraditório possível ao longo dos três primeiros séculos da cultura brasileira.

Não era só a cultura política e social da colônia americana, mas da própria metrópole lusa era vitima deste controle da elite dominante encastelada no poder central conforme pode ler no CORREIO BRAZILIENSE Janeiro de 1812 - Vol. VIII. No.44, PP. 46-54

E senao, perguntára mos nos   ¿como he possivel apparecerem Loke, ou um Montesquieu em Portugal, se este regulamento está prohibindo, que naõ se raciocine sobre matérias de Governo?

Como sempre as desculpas eram as mais esfarrapadas para este controle implacável. E o poder colonial não tinha a menor razão de temer algum poder ou controle superior. E a retórica vazia conseguia achar e dar livre curso inclusive com argumentos para demonstrar que este limite era bom e útil ao próprio PODER ORIGINÀRIO da nação lusa. Assim o editor do Correio continuava a registrar os recursos e as consequências imediatas deste controle irracional.  

A razaõ que daõ os do Governo Portuguez para ésta prohibiçaõ he, que naõ desejam occupar os animos dos povos com taes discussoens ; porque, incapazes de discorrer em taes objectos, dao facilmente em desvarios. Mas â força de naõ querer que os povos raciocinem em materias de Governos, naõ acham quem saiba raciocinar nellas; nem ainda entre os que estaõ á testa Governo; e isto por uma razaõ bem obvia.

Fig. 03 – A meia verdade do “TRABALHO LIBERTA” foi aproveitada pelos teóricos nazistas  diante da universal falta de oportunidades e trabalho decorrentes das consequências catastróficas da perda da Iª Guerra  Mundial pela Alemanha. Os DISCURSOS, por CIMA e por FORA, dos MESTRES DOMINANADORES progrediram diante deste cenário até o limite do absurdo e dos crimes ESCANCARADOS ao mundo horrorizado em MAIO de 1945 em DACHAU e outros campos de extermínio humano massivo. 

Ninguem tem o direito de discutir sobre os negócios politicos, senaõ os ministros de Estado, e Conselheiros de Gabinete ; mas como elles saõ nomeados para estes empregos sempre em idade um tanto avançada; ou haõ de aprender a politica violando as leys, que prohibem escriptos, e leitura nesses materiais a todo o povo em geral; ou haõ de iniciar nesse estudo depois de velhos, quando por estarem no Governo lhes he entaõ permittida essa leitura.
Como he possivel, logo, encontrarem.se homens bons politicos, e capazes de reger a Republica, em um Estado assim constituido. Os poucos homens, que poderaõ aprender a politica, saõ os que forem empregados nas Cortes estrangeiras : mas além do seu numero ser mui diminuto; e ordinariamente tirados de má classe, e de má educaçaõ ; as occupaçoens do homem diplomatico naô lhe daõ tempo para esses estudos, e o manejo das negociacoens lhes dá certa adhesaõ á subtileza, em preferencia á solidez de sua politica ; que os faz menos capazes para o governo das naçoens, do que ncnhuma outra classe de politicos
Fig. 04 – A meia verdade do “ONDE EXISTE UMA NECESSIDADE... EXISTE UM NEGÒCIO” pode transformar a necessidade básica - da sede física humana - num negócio rentável e depois de num hábito cultural tirano pelo qual se sacrificam os mais elementares valores de uma multi-milenar civilização. Assim se atualizam e universalizam as preocupações dos ministros lusitanos de janeiro de 1812.
Porem aonde estes regulamentos saõ mais notaveis, he no 3º artigo; em que se indicam quaes saõ as obras que se devem licenciar; e se manda promover a publicaçaõ das obras em que se tracte do adiantamento das sciencias, das artes, da industria, em geral, de bons principios de administraçaõ, de melhoramento e reformas uteis, muito interessantes, susceptiveis de fazerem as nacoens os maiores bens, e jamais lhe podem fazer mal; e antes no momento actual, pelo enthusiasmo que podem introduzir divertem o povo de ideas, das quaes ja mais seguramente lhe vem bem algum!

Se o Secretario de Estado naõ fosse aqui taõ verboso, naõ lhe escaparia o segredo que deveria por sua honra occultar; por quanto as ultimas palavras do periodo, que mencionamos, mostram quaes saõ as obras, que unicamente se poderem licenciar; ou, por outros termos, qual he a razaõ porque se naõ prohibem todos os livros; e he porque Ihe convem deixar correr " os que podem divertir o povo." Assim por exemplo, o Almocreve das Petas, a Gazeta de Lisboa, as obras do Padre Jose Agostinho, não encontraraõ a menor difficuldade em correr ; porque entretem o povo, e o divertem de ideas das quaes jamais seguramente lhe vem bem algum. Eis aqui o segredo que o Secretario de Estado deixou escapar.

Com esta chave será facil decyfrar o resto destes regulamentos, e a nullidade das palavras, que parece concederem obras sobre melhoramentos de administraçaõ, sciencias, &.; e he com ésta chave que se conhecerá o motivo porque se tinha ja prohibido; e se repette agora a prohibiçaõ, de que se naõ falle nada a respeito das Cortes de Hespanha nem a favor nem contra.

Fig. 05 – A verdade do “VIGIAR e PUNIR” pode tomar a forma de um JUSTIÇA de olhos abertos e prontos para lançar o seu  GRITO e DISCURSO LEGAL POR CIMA e por FORA das mais elementares necessidades básicas humanas, ainda não satisfeitas, e que a Justiça não pode propiciar e atender de uma forma direta e apenas pelos meios ao seu alcance e por sua natureza intrínseca..
Detalhe da escultura de Maximiliano FAYETH (1930-2007) colocada na parede sul do prédio do Palácio da Justiça de Porto Alegre

Pode-se levantar uma critica direta ao autor do Correio Braziliense pode-se argumentar que ele também elabora e faz circular um discurso por cima e por fora. Refugiado em Londres, Hipólito José da Costa, também realiza um discurso por cima, por fora e distante da realidade concreta do Brasil. Todos percebiam o caos napoleônico da Europa, à verborréia latina e aos afeitos atrozes na cultura brasileira de três séculos de colonialismo puro direto e sem janelas. No entanto, é possível argumentar contraditório que este jornalista jamais poderia elaborar e fazer circular os seus impressos no e para os territórios lusos se ele residisse e quisesse editá-los no Rio de Janeiro de sua epoca, de Lisboa ou mesmo escondido na Colônia do Sacramento natal.

O que se denuncia de fato é continuação indiscriminada deste processo de alienação. Tanto dos teóricos, dos editores e do publico que esperam  e respeitam no Brasil e culturas chanceladas  pelas mentalidades dominantes que vicejam á sombra  da Torre Eiffel, do Big Ben, do Empire State ou da cúpula da catedral de São Pedro.

Fig. 06 – A cidade  “CIRCULAR e PERFEITA como o GLOBO OCULAR” pode esconder, no seu centro, o mais cruel, despótico e subliminar controle e pronto e apto para irradiar  um discurso por cima e por fora único, fixo e avassalador das periferias desprotegidas..

Evidente que estas culturas são legítimas para povos que planejaram, trabalharam e as socializaram. Na proporção e na medida  que ampliam a população que lhes obedecem, tornam-se socialmente decisivos e mais poderoso o território que ocupam fisicamente. Mas a sua adoção indiscriminada pode causar os mesmos efeitos colaterais que a introdução de espécimes da fauna e flora em ambientes virgens e sem predadores. Na origem são aparentemente ingênuas e inconsequentes para  as culturas locais. No Brasil foi a introdução do positivismo. Uma mentalidade de uma população esparsa  dominada pelo colonialismo, escravidão voluntária a e imposta, percebeu - nesta cultura exótica - uma oportunidade de um discurso por cima e por fora ao estilo do catecismo comtista. Ainda que Comte não possa ser acusado, pois ele expressava um ponto muito particular que se havia disseminada de uma cultura industrial e mecanicista que andava subliminarmente.


Os paradigmas são íntegros e integrais.

Não é possível adotar uma ação, costume ou hábito isolando-o do contexto de sua origem. Uma cultura alheia arrasta para dentro da outra cultura todo o contexto  de sua origem. Ação, costume ou hábito estranho constitui um aparente e inocente fractal e que age como um microscópico vírus nem ente cultural estranha e contra o qual não existem defesas.

As grandes culturas milenares e que se julgavam eternas, onipotentes, oniscientes, onipresentes  desapareceram quando admitiram no seu ente cultural  como pequenos fractais representado por ações, costumes ou hábitos de culturas alheias,. Isto aconteceu com a egípcia, ou antigas pré colombiana Os gregos sucumbiram diante da adoção de costumes e hábitos romanos..De outra parte os gritantes fracassos de granes massivas culturas como a persa fracassaram diante de minúsculas culturas que tinham um projeto nacional e sabiam o que admitir ou recusar.

A cultura brasileira  está longe de um projeto nacional consciente. Em janeiro de 1912 a cidade de Salvador da Bahia foi alvejada pelos canhões da base da Fortaleza de São Marcelo com efetivos militares obedientes às velhas oligarquias cujas raízes estão no mais baixo colonialismo e da escravidão legal.


No contraditório, no momento da falta de interação com culturas alheias, a morte também é certa. No meio da contradição – entre os extremos da endogenia e, do lado oposto, a dissolução de todas as fronteiras e limites de um aqui e agora, impõe-se a colocação de um projeto consciente de identidade. Dissolução provocada pelo capricho inconseqüente e carente de sólidas raízes alimentadas por um todo consciente continuado e proveniente de todas as suas circunstâncias.

Fig. 07 – Contrariando o GRITO SOLTO e o DISCURSO, por CIMA e por FORA, a imprensa livre, FACILITA e GERA o HÁBITO do CONTRADITÓRIO de uma imprensa única, tanto oficial com dominado por grupos corporativos e interesses inconfessáveis.  A Revolução Francesa ganhou as ruas, mentes e corações pelos milhares de jornais nanicos ao estilo de “O CARTEIRO”
Aquarela de Joseph Seraph LUTZENBERGER 1882--1951,

A Arte sempre forneceu as fontes físicas e mentais  para as civilizações mais elevadas e que se projetaram para além e longe de suas fronteiras físicas e que mais duraram no tempo.

Um milhão de pessoas se manifestando na praça pode ser uma ameaça e uma causa segura de preocupações. Este Leviatã poderia mover toda uma nação. Contudo os efeitos pouco duram e as consequências desse grito uníssono da multidão, no âmbito da História de Longa Duração.  O grito uníssono e as suas potências aparentes, provocaram reações proporcionais e contrárias da própria multidão. Assim , em meio ao grito desta multidão, um único tirano sentiu-se legitimado para interpretar e realizar os seus próprios objetivos e muito longe - e até contra - do PODER de sua ORIGEM, senão para desgraça coletiva.

Fig. 08 – A cidade pragmática “ mal-estar de qualquer civilização” apesar de todos os discursos e declarações de amores pela GRANDE MAÇÃ                         Mural de Diego Rivera

O grande sujeito uniforme e linear da história sonhado por uma cultura positivista da ORDEM e do PROGRESSO atomizou-se. Esta atomização crítica contaminou a lógica das grandes empresas de comunicação, de comércio e de produção sonhado para o grande sujeito uniforme e linear da história sonhada pelos primitivos profetas do socialismo ingênuo. Os sujeitos constituíram-se MICROS AGENTES carregados como potencial, energia e lógica que contaminaram os  MACROS sonhos e tiraram a lógica dos cálculos.


Troque a sua memória e... seja feliz
O ideal de uma democracia ocidental é a possibilidade de escolher qualquer sujeito como líder.  Esta cultura incentiva e premia a busca de cada EU completo como uma personalidade positiva do grande holograma de uma cultura na qual todos os fractais tiverem a formação e a informação de um TODO maior ao qual pertencem e interagem.
Este TODO exerce um patrulhamento ideológico que manda apagar e  trocar constantemente as memórias PARTICULARES e individuais a favor deste TODO impessoal com o argumento que TODOS POSSAM SEREM FELIZES


Cultura fria e cínica.
Na cultura ocidental a criatura humana necessita enfrentar, a cada instante, a filosofia do cinismo, o drama da ironia mórbida e a mais pura tragédia do pessimismo da inutilidade de qualquer trabalho. Defronta-se, além de suas limitadas forças, com a extensão dos estreitos espaços que a trindade absoluta do "começo, meio e fim". Trindade que emoldura, encapsula e encerra qualquer perspectiva humana.


Perigos iminentes
Na conclusão é necessário insistir, que mesmo no plano cultural, a reação possui força proporcional e contrária a ação destes gritos e discursos. De um lado a reação poder ser o silêncio tumular, desconsertando e abolindo qualquer semente de projeto. 
No caso do discurso cínico vazio e frio, a reação pode ser o retorno à emoção, ao misticismo  e as emoções mais cruéis e primárias. Reação que se conhece como "barbárie contra a civilização".


Fig. 09 – O GRITO SOLTO e o DISCURSO, por CIMA e por FORA, é NATURAL, FACILITADO e GERADO pelo HÀBITO da PECUÀRIA PRIMITVA.  Basta estar sobre - e dominar - o cavalo para sentir-se o dono do mundo e o regulador de gente e bichos.. O PEÃO MEDIEVAL transforma-se em DOMINADOR quando é CAVALEIRO
Litografia de  Léo DEXHEIMER, (1935)“Sem título e data”  ...18 x 37 cm  - Acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli PM-POA-RS                  

Em síntese há necessidade de concordar com o mestre Leonardo da Vinci quando afirmou “onde se grita não existe verdadeira Ciência”. Ou em outros termos, o grito e o discurso vazio são avisos seguros da barbárie e da dominação do rebanho no caminho para o matadouro.


Na prática concreta o PODER ORIGINARIO possui comprovadas sobras de razões para desconfiar e não acreditar em todo o discurso que venha de cima e de fora da sua realidade. Para quem é colocado acima e por fora das circunstâncias empíricas - deste mesmo PODER ORIGINÀRIO - cabe o trabalho de entender e exercer o papel do CULPADO de TUDO.



FEATHERSTONE,Mike –O desmanche da cultura : globalização, pós-modernidade e identidade. São Paulo : Nobel-SESC  1997, 239 p.

DESRESPEITO HUMANO e CULTURAL

FÀBRICA de ARTISTAS

Texto integral do Correio Braziliense – Janeiro de 1812  VOL. VIII. No. 44. Disponível em:

SANCHES, Ribeiro, 1699-1783 Cartas sobre a educação da mocidade / António Nunes Ribeiro Sanches. - Porto : Domingos Barreira, [19--]. - 236 p., 2 f. ; 19 cm. - (Portugal / Joaquim Ferreira ; 25)  disponível na integra   em  http://purl.pt/148/1/   

O bombardeio da cidade de Salvador
 Correio do Povo ANO 117 Nº 114 - PORTO ALEGRE, DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012 p13 Há um século

A presente postagem possui objetivos puramente didáticos

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