sábado, 20 de outubro de 2012

NÂO FOI no GRITO – 053


MUDANÇAS e INÉRCIA.
“O conservadorismo estético funda-se na recusa de romper com os
                                  códigos conhecidos para entregar-se às exigências internas da obra”                                                          
                                                                       Bourdieu 1987 p.218

Fig. 01 - A temeridade não é suficiente para uma MUDANÇA coerente. A ruptura epistêmica temerária  pode arruinar mais do que inverter a lógica anterior. A tese contrária à opinião geral certamente gera um problema na concepção aristotélica. Mais do que a simples coragem é necessária passar por um novo parto. Parto que para o psicólogo freudiano é a origem de toda a resistência a qualquer mudança, pois a experiência extrauterina tornou-se algo. O artista uruguaio Joaquin TORRES GARCIA ( 28.07.1887 -08.08.1949), ao inverter o mapa da América do Sul certamente gerou um problema. Na Arte como na Vida a mudança apenas pela mudança gera e legitima outro CONSERVADORISMO estético ou existencial.

As maiores mudanças são silenciosas e discretas. Elas não são realizadas no grito. Os conservadores, a ignorância e o poder querem se impor aos gritos rompantes e com encenações ruidosas. Com estes ruídos buscam camuflar o seu próprio vazio. A cultura inglesa fala que "an empty barrel makes the most noise" ou que “um barril vazio faz o maior barulho”. http://www.fife.50megs.com/scottish-sayings.htm


CRUIKDHANK George - 1792-1878 - A vida em Londres em 1821
Fig. 02 – Qualquer sociedade ou civilização portadora de um projeto de transcender a Natureza dada  sempre anatematizou a PREGUIÇA como OFICINA do DIABO e a MÃE de TODOS os VÌCIOS como um parasito indesejável no acúmulo de pessoas, meios de produção e de capital.  é necessário só a temeridade

O Regime Colonial Brasileiro também fazia o maior barulho para camuflar as suas reais intenções. Para tanto realizava seus rituais, celebrações coletivas e enforcamentos contextualizados em horrorosos espetáculos públicos. Os seus mediadores e apoiadores emitiam um discurso publico pautado no paradigma da intimidação e da formação do rebanho de súditos.  As suas eventuais mordomias eram usufruídas pelos donos do poder.  Por pior que fosse o regime colonial e por mais injusta escravidão legal vigente no Brasil, mediadores e apoiadores deste poder  seguiam e tinham sempre nas mãos argumentos para NÃO MUDAR o regime e a lei que mantinha de pé o Regime Colonial Brasileiro. Contudo uma vez conquistada a soberania e a liberdade servil, estes mesmos arautos das MUDANÇAS tornam-se paladinos  máximos do CONSERVADORISMO. O poder deixa de circular, na concepção de Foucault, uma vez ELES conquistam  um cargo ou uma posição de destaque. Por sua vez os recém-chegados ao poder ensejam o surgimento de novos contestadores da ordem que eles estabelecem.  Esta luta pelo poder fomentava, entre os excluídos, novos profetas ou revolucionários radicais. Os paradigmas são íntegros e integrais, mas não conseguem incluir nos seus limites toda a realidade sobre os quais eles se estabelecem suas competências e realizam recortes específicos. Esta pretensão seria o primeiro passo para a onisciência, a onipotência, a universalidade e a eternidade características de qualquer totalitarismo.

COROT  Jean-Baptiste Camille 1790-1875 Destruição de Sodoma. 1857- óleo 92 x 181 cm
Fig. 03 – Conforme a narrativa bíblica, na destruição de  SODOMA  poucos se salvaram. Quem olhou para trás, virou estátua de sal. Uma sociedade de comerciantes sabia e apreciava o valor das mudanças. Até o presente várias civilizações aproveitam este saber realizar mudanças cuja cultura é proveniente dos sumérios, fenícios e Indus. A cultura egípcia petrificou-se e foi incapaz da leveza, falibilidade e coerência nas suas mudanças de paradigmas. Enquanto isto os israelitas e os islamitas, portadores de um projeto de transcender a Natureza dada, sempre anatematizaram a inércia e a falta de visão, a carência de projetos e a realização de trocas físicas ou simbólicas.

O paradigma do clã e da tribo mantém a escravidão voluntária característica das culturais tradicionais. Para esta cultura basta sublinhar a tendência humana em naturalizar, apropriar-se e reduzir ao seu próprio tempo, seu território especifico e aos lugares naturais. A entrada de qualquer negociante neste circulo interno é suficiente para romper com este paradigma do clã e da tribo. A autoridade do seu olhar de estrangeiro transforma a tudo e todos em mercadoria. Estas culturas ditas “naturais” só descobrem tarde e numa pesada heteronímia, as suas perdas de sua liberdade, de cultura própria e a identidade que estavam misturadas e presas à Natureza. Diz o ditado Deus perdoa sempre, a criatura humana algumas vezes e a Natureza jamais”. Só num estágio mais avançado descobrem e promovem civilizações das quais conhecem os projetos de origem e a artificialidade e a intencionalidade destas construções humanas. Isto só acontece na medida em que superam o paradigma do clã e da tribo destas culturas que se consideram “naturais”. Parece que cada ser humano necessita passar e romper com o paradigma do clã e da tribo além de evoluir com o coletivo ao qual ele pertence.


BROWN, Ford Madox 1821-1893 - Adeus à Inglaterra 1855 -óleo 75 x 82.2 cm
Fig. 04 – Os imigrantes de todos os tempos e latitudes sempre fora os heróis da MUDANÇA  As perdas significativas que estes imigrantes tiveram foi compensado pela aquisição do estatus de estrangeiros. Como tais passavam a desempenhar o papel de juízos na percepção dos nativos de suas novas pátrias devido ao seu olhar que era considerado neutral. Esta concepção foi desenvolvida extensamente por Georg Simmel.

Ninguém nega, ou é contra, a Natureza. Ela é a mestra dos portadores da memória da vida intrauterina. Ela também ensina, e fornece os meios materiais, para superar o impacto e trauma do nascimento num mundo. Mundo que opõe violentamente com a proteção materna original. A evolução mental individual e coletiva também passa pela caverna platônica.
Contudo nenhum ser humano consegue apagar - do seu inconsciente - o conforto, a proteção e o ócio que ele gozou no útero materno. Também não esquece o choque da perda deste paraíso e a sua necessidade de se habituar a um mundo hostil, por mais confortável que possa parecer e por mais que ele consegue reorganizar. Assim aqueles que questionam ou tentam alterar esta ordem uterina - que ele reconstruiu a duras penas - é declarado inimigo seu. Quem tem por projeto realizar qualquer mudança necessita enfrentar esta resistência existencial. Na concepção freudiana esta mudança joga todos os sofrimentos do parto e que o acompanham para o resto da vida. 

Fig. 05 – Uma das primeiras imagens que o imigrante europeu encontrou nos territórios que desejava “colonizar” era o olhar do nativo com o qual ele conjugava o seu próprio olhar de mercador cujo paradigma transforma a tudo e todos em mercadoria. Nesta conivência de olhares interesseiros os dois naturalizaram e transformaram a todos e a tudo em mercadoria

Nas sucessivas tendências estéticas não é diferente. O teórico francês Bourdieu afirmou (1987 p.218) que  “o conservadorismo estético funda-se na recusa de romper com os  códigos conhecidos para entregar-se às exigências internas da obra”. Exigências internas das quais cada obra necessita lançar mão na construção externa dos seus elementos percebidos pelos sentidos humanos. Exigência crucial para que uma obra de Arte tenha meios para atingir a sensibilidade física do seu observador.  Exigência crucial para que uma obra de Arte tenha a fortuna de ser portadora da mentalidade e pensamento do seu criador até o seu observador.
Estas exigências internas geram poderosos campos de forças. Campos de forças impossíveis de romper na medida em que uma obra de Arte necessita ser coerente com seu tempo e o seu lugar de origem. A primordialidade desta obra de Arte legitima e autoriza também todo o trabalho de mediação.


Fig. 06 – Por mais dura, mortal e desagradável que tinha sido a experiência militar, esta mesma experiência mergulha os seus integrantes num útero coletivo no qual se gera uma consciência coletiva e que é transmitida de geração em geração através da cultura. Na imagem soldados bávaros em 2012, vestidos com os trajes e portando as armas no bicentenário da marcha sobre Moscou e da qual participaram os seus antepassados.
                                                                     
A reação é igual à ação. Reação igual à ação quando ocorre o desconhecimento, a desqualificação ou a desconsideração das forças da Cultura e da Arte. O agente governamental, que se diz mediador entre produtor e observador da Arte e da Cultura, corre o risco de corromper tudo. Quando o agente estatal se apresenta como mediador universal e necessário, permite - e abre  terreno - para o cultivo continuado da desculpa de que o “governo como culpado de tudo”. Especialmente quando este agente não realiza outro esforço mental do que inventar desculpas esfarrapadas. Desculpas esfarrapadas que possuem, entre outros, o seu objetivo imediato de manter o seu cargo e embolsar o alheio. Ele já se encontra, além disto, armado e municiado para apontar, autoritariamente, o responsável e assim se eximir de qualquer sanção moral e no inquérito sobre as eventuais responsabilidades. 


httpbucaco.blogs.sapo.pttagcultura   - http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Bu%C3%A7aco
Fig. 07 – A mediação dos soldados e dos oficiais ingleses entre o trono vazio em Lisboa e o poder originário lusitano  manteve a condução de quem iria vencer Napoleão Bonaparte em Waterloo.  Aqui na figura de um azulejo evoca-se a figura de Arthur Wellesley o Duque d WELLINGTON (1769-1852) na BATALHA de BUÇACO ( 27.09.1810)     Por mais dura, mortal e desagradável que tinha sido a experiência militar, esta mesma experiência mergulha os seus integrantes numa cultura de uma memória fixa, linear e única transmitida de geração em geração e na qual o inimigo da época, outros de fora, não se identificam ou reconhecem de forma alguma..

Este foi um expediente de que se valeram os agentes da burocracia lusitana para entregar a guarda do território lusitano aos soldados e aos oficiais ingleses. Enquanto a corte portuguesa se refugiava nas águas tranquilas da baia da Guanabara os ingleses mandavam e desmandavam em Portugal. O Príncipe era alvo da desculpa de que o “governo era o culpado de tudo”.  Esta clivagem entre a Coroa lusa e o Poder - do qual ela se origina -  permitiu a MEDIAÇÃO necessária e oportunista de que qualquer interesseiro e com os mais variado interesses. Porém em outubro de 2012 esta MEDIAÇÂO espúria continua a prosperar e fazer fortunas. Apenas mudam as aparências
O ideal imutável, fixo e único faz esquecer a rica e contraditória realidade. Diante da realidade foi possível a João Pedro Ribeiro elogiar o irlandês–inglês Lorde  WILLIAM CARR BERESFORD (1768-1854) -  Marques do Trancoso  ler o soneto:
“Tua memória ao Marte Lusitano,
Novos brios infunde, alenta, e cria
Em ti ressurge a Lusa Monarchia
Qual out'ora surgio do Jugo Hespano.
Oh quão brilhante vens l o quão radioso!
Mais do que os d'oiro nesta Idade brilhas,
Dia de Glorias, Inclito, Famoso:
Tu, ao Corso iracunda a Fronte humilhas
Tu, excitas n'hum Povo Generoso,
Mores, que as feitas, novas Maravilhas!!!”
Correio Braziliense, nº 53, outubro de 1812, p. 663.



WILLIAM CARR BERESFORD 1768-1854 - Conde de Trancozo
Fig. 08 –  O oficial britânico WILLIAM CARR BERESFORD (1768-1854), nascido na Irlanda e com títulos nobiliárquicos e honoríficos lusitanos como  Conde de Trancozo fez uma mediação com mão de ferro e com suporte dos soldados e dos oficiais ingleses e onde usou os mesmos métodos dos franceses  
Este texto é índice com é possível passar de uma tirania para outra, diferente apenas na forma e modo de agir. Certamente o Marques do Trancoso não era nenhuma unanimidade no seu modo de agir muito menos um democrata com atitudes e convicções favoráveis ao Poder Originário lusitano. Isto ao ponto de a Corte portuguesa refugiado no Rio de Janeiro se esquivar de uma visita deste irlandês bastardo que havia condenado e enforcado vários generais portugueses.
A prédica do futuro incerto e pior do que o presente, são algumas armas para quem quer mudar por mudar, apostando que a realidade mude e se tome favorável a ele. A resposta recebida pelo governo lusitano em outubro de 1812, é um índice de um legalismo imaginado, presumido e endêmico
“mandou o Governo, que a repartição da saude lhe apresentasse os titulos; porque recebia os emolumentos, que cobravam estes officiaes. A resposta foi, que naõ havia mais título do que o custume, e o consentimento das parles; e a uma tal resposta emudece o Governo”.      
                    Correio Braziliense, nº 53, outubro de 1812, p. 686.


LEÕES de CORDEL in MALHO nº 210 RJ 22.09.1906
Fig. 09 – A mediação só é possível numa cadeia de subordinados e títeres - que se movimentam, sem deliberara e decidir - e  nas mãos dos agentes estatais de todas as culturas e épocas. Aqueles que se insurgiram contra a monarquia brasileira no final do II Império Brasileiro e início do Regime Republicano tornam-se paladinos  máximos do CONSERVADORISMO. Estes mesmos antigos arautos das MUDANÇAS aprenderam a manipular os fantoches e títeres servis,  em vez de repassar-lhes a vida da autonomia quando conquistada a soberania e a liberdade, O senador Pinheiro Machado pagou com a própria vida esta mediação nos primórdios republicanos.

Este expediente carreava argumentos para NÃO MUDAR o regime e a lei. São estes mesmos crápulas que, uma vez conquistada a soberania e a liberdade servil, são arautos das MUDANÇAS e depois retornam os postos cujos titulares desestabilizaram para se transformarem nos  maiores paladinos do CONSERVADORISMO.
Estes paladinos do CONSERVADORISMO, uma vez em qualquer cargo público, a sua função consiste em dar plantão numa usina que produz uma torrente contínua de desculpas para entravar qualquer mudança significativa.
As primeiras vítimas a tombar, nesta torrente contínua de desculpas,  são a Verdade, a Arte e o Direito do Poder Originário fluir autônoma e livremente.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, Pierre ( *1.8.1930 - †23.1.2002 ) Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva,  1987.  361p.

CHARTIER,  Roger (*09.12.1945 - ).   Au bord de la falaise:  l´histoire entre certitudes et inquiétude. Paris  : Albin Michel, 1998.  293p.

FOUCAULT, Michel (*15.10.1926 – †28.06.1984).  Microfísica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1995. 295 p.

FREUD, Sigmund.(1858-1939) Conferências introdutórias sobre psicanálise: resistência e  repressão. Rio de Janeiro : Imago 1976. 337-354.  (Edição standard brasileira de obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v.16)

SIMMEL, Georg (*01.03.1858- - 28.09.1918)  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid :  Alianza. 1986,  817 p.  2v

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
CORREIO BAZILIENSE – Londres - outubro de 1812

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