quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

NÃO FOI no GRITO - 068


O GRITO ABAFADO das RUAS
em JANEIRO de 2013

Se o povo não tem pão, coma brioches

Frase atribuída à rainha Maria Antonieta

Os pensamentos permanecem enquanto as cabeças rolam. Rolam como aquela onipotente, onisciente e coroada Maria Antonieta. O seu pensamento que permanece em 2013 diria “se o transporte está ruim, por que o povo não anda de Rolls Royce” Ou diante da noticias dos barracos da favela, perguntaria espantada: – “Por que eles não moram numa cobertura em Copacabana?”.
Fig. 01 – O nomadismo urbano de bandos de jovens sem rumo possui um pretexto de anarquismo que joga os seus autores na pura contemplação de sua natural finitude e miséria física, moral e estética. O resultado é o isolamento e uma reserva de ódio recalcado que pode cair, num segundo momento, sobre eles e de quem estiver próximo deles. O pretexto de reunir estas energias críticas pode ser um time, uma ideologia e, até um projeto positivo que redunde num trabalho coletivo benfazejo a todos. Caso contrário será mais uma “oficina do diabo” no dito popular.

E existem pessoas, instituições, classes inteiras que se agarram como carrapatos ao pensamento da rainha pernóstica e distante de tudo a que cheira a povo. Um dos presidentes brasileiros foi franco e direto na sua preferência: “gostava mais do odor das cavalariças do que o cheiro do povo”.

Fig. 02 – Declarar-se publicamente anarquista, de boca para fora, deixa um rastro de entropia física, moral e estética
 
Na contra-ofensiva as pichações físicas, aqui mostradas e comentadas, constituem “café pequeno” diante das recorrentes pichações morais  das altas esferas administrativas e que poluem o ambiente político de uma nação. Pichações morais que provocam cenários hediondos na política, na mídia e com feios e abomináveis respingos no judiciário e especialmente respingam sobre o seu próprio poder do qual se originam que usam, conspurcam e  fazem questão de desconhecer as consequências do mal que  provocam. Se os pichadores de espaço público depredam o património físico,  os degenerados que se valem da pichação moral, depredam o patrimônio imaterial de uma nação e com isto dão licença para a barbárie econômica.
Fig. 03 – Um rastro de destruição física é coerente,  consequente e torna evidente, aos olhos de todos, a destruição moral, estética e material que segue num ritmo acelerado aquilo que pensa, julga e condena.  Onde passam os pensamentos guerra dez anos depois passam os canhões” já afirmava Napoleão Bonaparte.  Ao declara-se anarquista, mesmo que seja apenas  de boca para fora, produz um tipo de ‘contemplação’  que julga tudo errado, inútil e abre a vontade para a depredação imediata, definitiva e radical que possa contrariar tal mentalidade.

É necessário um “basta” as pichações morais como aquelas físicas. Um “basta” não pode iniciar sem que outro “basta”. Não pode iniciar estancar uma pichação física sem um final total e absoluto das pichações morais.  Ambas necessitam dar um passo decisivo para um contrato público e para o imediato estancamento dos gastos patrimoniais, simbólicos e políticos.

Fig. 04 – Na lógica anarquista, mesmo que seja de boca para fora, os julgamentos são totalitários, definitivos, absolutos e irrecorríveis. Para esta lógica não existe o contraditório, mesmo que prática o portador desta ideologia seja da classe alta ou média. Sigam-se lideranças destas...

O perigo ronda e se avoluma de tal forma que este claro pacto político e material levará a coisa bem piores do que a Revolução Francesa outras nas tendências daquelas das atuais primaveras árabes. Antes de 1789 a França também parecia um paraíso. O mesmo poder dito para o mundo de 2013 e com maiores evidências para quem se situa numa determinada casta social, econômica, cultural e política. As pichações morais e patrimoniais parecem suaves brisas contrárias e algumas nuvens escuras no panorama destes apaniguados pelo poder. Poder que se encontra momentaneamente em suas insubstituíveis e bondosas  mãos. Poder que é cobiçado pelos seus concorrentes mais próximos. Cobiça pelo poder que arma cenários, na tendência das pichações morais entre leninistas e trotskistas, entre girondinos e jacobinos entre guelfos e gibelinos.

Fig. 05 – Uma peça de marketing e propaganda mistura comércio, religião, símbolos materiais e imateriais. Este truque foi tentado por outra companhia italiana, no século XX. Parece que efeito não passou de uma pequena marola na mídia. Ignora-se se esta resiliência moral e simbólica propiciou mais empregos e trabalho para os jovens, aportando um efetivo ingresso de caixa. Certamente era o efetivo lucro econômico, que interessava aos seus financiadores desta campanha publicitária. Parece que desta imagem nem mídia mereceu.

 Partidos que pincharam o termo TRABALHO nas suas siglas como tantas outras palavras de ordem, são meros recursos retóricos. Na prática diária perderam toda a sua origem semântica quase desde a origem destas agremiações. Hoje são tristes cortejos de zumbis a cadáveres daquilo que enunciam no seu programa inaugural. Sé que tiveram algum projeto diferente da mera conquista e de sua própria manutenção no poder. Projeto transformado em programa sério que os mantenham unidos entre si mesmos. Projeto transformado em programa e capaz de retornar ao poder do qual dizem ser os mediadores diante do Estado brasileiro como agentes de mudança coerente com a sua sigla e para o bem comum.

Fig. 06 – As ditas “primaveras árabes” revelam o imenso tempo nos quais os respectivos  pactos nacionais estiveram longe do Poder Originário e em lugar ignorado. As manifestações e expressões reprimidas longamente, explodem incontroláveis, repetem as cenas da Revolução Francesa com todo o circo de horrores que todas estas explosões.

A esperança é que atrás desta geração de jovens e de políticos militantes surja outra que consiga contrariar o tradicionalista Paixão Cortes quando sentenciou (1984: 7)[1] que "o brasileiro fala muito, documenta pouco, analisa menos e conclui definitivamente, a sua moda, na hora que interessa. Para a geração 2013 esta frase ainda é refúgio, salvação e sorte daqueles. Abriga aqueles não querem mudar, impossibilitando-os de realizar uma ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário.


[1] - PAIXÃO CORTES, João Carlos. Aspectos da música e fonografias gaúchas. Porto Alegre: Repressom   1984    
 

 
Fig. 07 –Mesmo que estas explosões sejam estetizadas e tenham a fortuna de uma imensa mídia, de um nutrido mercado de arte  e um cortejos de seguidores elas apenas arranham a superfície do problema efetivo e real . Com esta estratégia possuem muito mais em ocultar a verdade oculta  elas

O reducionismo e as naturalizações entrópicas constituem portos seguros para quem não querem mudar. O fazer pelo fazer impede qualquer ruptura epistêmica e é incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico saber e um agir coerentes.  O mundo conceitual, coerente com o agir, necessita preparação e correção para produzir algo de útil além de degradantes slogans pichados em paredes alheias. Afinal somos aquilo que lemos e escrevemos.
Fig. 08 – Declarar-se anarquista, de boca para fora,  é tão confortável e vazio de sentido, quanto declarar-se rico por qualquer motivo que seja. Ambas as declarações são peças de marketing e propaganda que escondem outras motivações, vivências e heranças culturais bem distintas daquilo que declaram na superfície de uma parede pública.

 
FONTES IMPRESSAS

FOUCAULT, Michel(1926-1984).  Microfísica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1995. 295.

FREUD, Sigmund.(1858-1939).O mal estar na civilização (1930). Rio de Janeiro : Imago, 1974. pp. 66-150.  (Edição standard brasileira de obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.13)

MACHADO da SILVA  Juremir Resiliência de político. CORREIO do POVO - ANO 118 - Nº 116 - PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2013  - 2

Fig. 09 – O anarquista, de boca para fora, explora as suas próprias contradições e não é capaz de formular um projeto digno deste nome. Projeto que o tire da cômoda posição de cima do muro donde joga pedras sobre a multidão que passa. Projeto para transformar em complementariedade as suas contradições. Projeto, que ao menos, se proponha criar condições mínimas de diálogo e de interação com a sua própria categoria social, classe de trabalho ou de interesses.


FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

BANSKY

GRAFITEIROS em AÇÃO no FÓRUM MUNDIAL – CP - 27.01.2013

MARIA ANTONIETA

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

NÃO FOI no GRITO – 067


A DENÚNCIA VAZIA e
o BRASIL em JANEIRO de 1813
 A MEDIDA e a PROPORÇÃO da FOFOCA.

 
“...foram castigados sem processo, sem provas, sem sentença [...] Nós respeitamos profundamente os direitos da liberdade, e da segurança legal; mas não respeitamos menos a primeira lei, que funda o pacto social, que é a segurança da sociedade.”
                      Correio Braziliense, vol. X. nº 56 janeiro de 1813, Política, p.35 e 39


LACOONTE e seus FILHOS - obra de Alesandro -Almadoro e Polidoro - c.48 a. C  -segundo Plínio o Velho
Fig. 01 - O sacerdote troiano Lacoonte denunciou o estratagema do Cavalo de Troia. A sua voz calada e os corpos dele dos seus filhos foram esmagados pela serpente mandada pelos deuses amigos dos atacantes da cidade.

O Brasil encontra-se, em janeiro de 2013, muito distante  da terrível arma da denúncia obscena, vazia e carente de provas robustas. Existe certa tolerância e complacência no embate quando as denúncias procedem de iguais e com mesmo nível administrativo. Contudo, na maioria de vezes, não é este o caso. A fofoca não respeita anciãos, heróis de outros tempos e aqueles que o agressor considera como inferiores. Estes são duplamente desqualificados.  A denúncia vazia torna-se virulenta, maldosa e principalmente quando o detrator público estima tirar alguma vantagem de sua vítima. Ataca sem piedade a quem ela coloca com objeto de sua sanha, pretende aniquilar ou subtrair os derradeiros e frágeis bens morais e materiais. Com o seu ataque visa garantir um cargo para si, sem entender nada das funções deste mesmo cargo.  Na política deseja a visibilidade e a propaganda do seu nome. Nome de marketing associado a número a serem lembrados na hora de o eleitor ser obrigado, e constrangido, escolher algum nome conhecido associado a um número a ser digitado. Entre este número, associado ao nome de marketing e o obscurecimento da moral o eleitor não encontra espaço e tempo para lembrar-se de ética. Resumindo: a denúncia vazia constitui uma forma de desqualificar, humilhar, atropelar e passar por cima para tirar vantagens pessoais ou para o seus.

Na sua ótica obscena não há culpa, remorso ou reconhecimento de erro, pois todas fazem assim. Argumentam eles que, em Arte, em Política e em Esporte, afinal, não se pede perdão.


James GILLREY Honi soit qui mal pense em 02.04.1787 CHERBOURG
Fig. 02 – A imagem mostra o ocupante de cargo conquistado pelo nascimento e pelo sangue e que entende absolutamente nada das suas funções administrativas. Nesta ocasião concreta, a denúncia é necessária, imediata e efetiva. Denúncia objetiva com provas materiais daquilo que o relapso tentou esconder para si mesmo e procrastinar. A recusa do ocupante do cargo público de negar o faro de pertencer ao circuito do poder, ou a tentativa de “inventar funções” para o seu cargo, impõe ao poder originário  refrescar a memória do irresponsável. Nobre que ser refugia nas glórias e nas alturas  sem assumir o contrato público que as funções pelas quais foi criado o seu cargo

Clique sobre a imagem para ler as anotações

O editor valeu-se do Correio Baziliense para evidenciar um panfleto impresso em lugar ignorado, anônimo  e que, em janeiro de 1813, ainda  circulava em Londres, onde residiam vários deportados lusitanos. O próprio Hipólito José da Costa havia sido vitima das investidas do Tribunal da Santa Inquisição lusitano e experimentara, e sabia do sentido oculto e tenebroso dos escombros do sistema colonial. Porém o editor realiza esta defesa analisando uma resposta a partir um texto de um dos deportados também exilado na capital britânica. Assim o Correio Braziliense e publicava no vol. X. nº 56 janeiro de 1813, no setor de  Literatura e Ciências, p.34

Explicação imparcial das Observaçoens do D°r- Vicente Jozé Ferreira Cardozo da Costa, sobre um Artigo da Gazeta de Lisboa, de 22 de Outubro, de 1810 . - .1812.

Sem lugar da Impressão. A. OBRA que aqui annunciamos ao publico he um folheto annonymo de 78 paginas em 8º. ; e que suposto nao traga o lugar da impressão no exemplar que nos chegou á maõ, pelo papel e figura dos typos se conhece mui bem ser impresso, em Londres. Propoem-se a responder a um opusculo do Dor. Cardozo um dos deportados na Septembrizaida de Lisboa, que também fôra publicado aqui em Londres ; e como aquellas observaçoens saõ feitas a um artigo da gazeta de Lisboa, o A. aqui em sua resposta segue a mesma ordem das observaçoens, respondendo a cada observação com seu artigo. Na introducçaõ faz o A. uma apostrophe ao Dºr. Vicente,em que o accusa de escrever aquella obra, naõ para se justificar; mas pelo desejo de vingança, e unicamente para desacreditar o Governo de Portugal, e principia o primeiro artigo p. 1. assim.

" O A. das observaçoens parece querer justilicar-se da opinião, que lhe he contraria ; mas se assim fosse, principiaria por expôr o facto, de que tira assumpto para esta declamaçaõ, na ordem das circumstancias, e estabeleceria os argumentos de sua defeza, e as provas de sua justificação."

O Leytor vera ja deste extracto que o A. toma o partido dos governadores do Reyno, contra os deportados ; em cujo numero entra o Dºr. Vicente; e naõ obstante naõ ter elle accusado de crime algum; o A. aqui suppoem que ao Dºr. incumbe o provar que está innocente. Esta supposiçaõ, porém, he contraria a todas as regras da justiça; porque a innocencia sempre se presume, até que o crime se prove.

Este texto jornalístico evidencia a complexa arquitetura dos textos do Correio Braziliense e o esforço necessário para desvencilhar-se desta sórdida e traiçoeira serpente da denúncia vazia. Caso não houvesse esta estrutura imediata e reação enérgica, ela conseguiria esmagar as suas presas, avolumar-se e fazer progredir a sua sanha indefinidamente.

Somente quem foi vitima de uma destas serpentes da denúncia vazia, sabe da sua capacidade de surpreender no momento em que o alvo de sua sanha está desprotegido e sem meios de defesa.


James GILLRAY 1758-1815 Very Slippy Weather 1808 detalhe
Fig. 03 A imagem exibe o sonho do editor de ver multidões compactas e sedentas das informações que ele divulgadas pela imprensa da era industrial. Mormente quando as recentes técnicas da litografia permitiam oferecer imagens especialmente criadas para esta técnica. Neste ambiente da era do múltiplo da linha de montagem industrial prosperou a charge, a caricatura, as imagens dos reclames e decorativas. Os vorazes consumidores, acostumadas com o artesanato da imagem e antes de a fotografia, enriqueciam os criativos e astutos editores  de janeiro de 1813.

Qualquer lógica administrativa enfrenta seus inimigos. Entre os piores estão o boato, o conchavo e a fofoca patológica, pois são internos, incontroláveis e vazam para o mundo externo. Assim a denúncia vazia consegue abalar esta lógica interna e externamente. Porém o pior é quando estes celerados conseguem o conluio e se misturam aos instrumentos administrativos do poder público. Passam a ostentar-se como paladinos do bem público e para o bem geral da nação. Porém não possuem o menor contrato com o Poder Originário de quem passam a nomear-se como legítimos representantes para tudo, em todos os momentos e para todas as causas. Evidente que a sua meta é trabalhar apenas, e tão somente,  para os seus próprios interesses. Tomam iniciativas nesta área sem o menor traço de apoio, anuência ou deliberação do Poder Originário de quem operam como os mediadores, os atravessadores e os interventores.  Pelo texto do Correio Brazieliense estava ocorrendo de fato em janeiro de 1813

Este folheto que annunciamos ao publico he com toda a probabilidade obra de pessoa acolhida ao bafo do Governo de Lisboa, como se ve manifestamente de alguns factos particularissimos, que cita; e que ninguém podia saber se naó os do Governo; ou pessoa intima a quem algum delles os declarasse; este mesmo governo he quem provoca o D01. Vicente, tractando-o com summa injustiça ; e he agora este mesmo governo, que lhe lança em rosto o seu desejo de vingança, e lhe recommenda, no meio de seus soffrimentos, a virtude christaã da paciência, bem como um assassino que embebe o punhal no peito de sua victima, lhe pode recommendar a tranqüilidade de espirito, e a resignação aos altos e inescrutaveis decretos da divina providencia.

O problema do conchavo e da fofoca não é só ético, mas também formal. As suas formas de interação possuem um suporte SEMIÓTICO muito estreito. Esta estreiteza é proveniente do repertório limitado, a dois ou três indivíduos que são a origem e o manipulam e buscam usufruir algum proveito pessoal em detrimento de lógica administrativa interna. Para transformar a mentira em verdade defendem, com unhas e dentes, o seu estreito repertório no meio interno no qual implantaram e no externo onde fizeram circular a sua meia-verdade.


Fig. 04 O portentoso continente americano acorrentado pela escravidão colonial era o depósito e o destino de todo aquele  que não se enquadrasse na lógica, na estética e mentalidade do Velho Continente. O pintor e poeta William BLAKE resumiu nesta imagem, de  1793, que ele intitulou de  América. Uma profecia  imagem exibe o sonho do editor de ver multidões compactas e sedentas das informações

Estas denúncias vazias corroem e corrompem, externamente, toda a coerência de uma sociedade. Esta sociedade necessita segurança na lógica administrativa das suas instituições para iniciar, continuar e reproduzir uma civilização com base num do contrato social digno deste nome. Não são estas denúncias vazias que lhe irão fornecer esta segurança. Ao contrário, os milhões de olhos e de ouvidos do Poder Originário não se deixam seduzir, por muito tempo,  pela voz obscena e isolada, mesmo que venha do mais alto poder do Estado. Mesmo que tenha da aturá-la por um período maior que a criatura humana é capaz de suportar tal suplicio. A continuidade e a insistência neste suplicio só ajuda a odiá-la e remeter os seus autores ao abismo do passado sem volta. O Correio Baziliense percebeu este movimento de repulsa diante desta corrupção da autoridade educada e acostumada no regime colonial primitivo. Assim, na página 38 do seu  nº 56 janeiro de 1813 colocava o dedo na ferida

O A. accumula tal numero de invectivas contra o Dr. Vicente, e enche-o de opprobrios por tal maneira, que bem longe de produzir o effeito de voltar a opinião publica a favor da medida da deportação, excita o desprezo por sua producçaõ, dirigida a denegrir um homem em sua infelicidade, insultando-o em sua miséria, e tractando de lhe fazer mais amarga a sua penosa existência, até revivendo factos contra elle, que nenhuma connexaõ tem com o assumpto. Tal he por exemplo uma tediosa historia que refere de uma denuncia á coroa de certo beneficio, que éra da apresentação de um convento de monges» Benedictinos. Naõ sabendo nós se Dr . Vicente tem ou naõ commettido crimes, nunca intentamos, nem agora mesmo pretendemos julgallo innocente ; mas ha cousas de que se pôde decidir á primeira vista; tal he a injustiça no proceder; quando se castiga um homem sem o ouvir, quando elle pede o seu processo, e naõ lho querem fazer.

Todos os governos enfrentaram esta forma de parasita da coerência social da sua lógica administrativa. Alguns governos eliminam, pura e simplesmente, aqueles que sustentam a corrupção do contrato social.


Fig. 05 – O britânico Francis Bacon (Belfast 1919- Madrid 1992) trouxe para a arte contemporânea todo o horror à tirania pessoal e falta de contrato com o Poder Originário. Partiu da obra Cardeal Don Fernando Niño de Guevara de EL GRECO (1541-1616) revelando todos os resultados desta forma de governo sustentado pela denúncia vazia e que culminavam nos suplícios os mais horrendos que a mente humana, tomada por esta sanha,  pode engendrar. Suplícios metódicos  que  jogaram  o poder espanhol num espiral de carnificinas de uma máquina de moer carne humana e num verdadeiro açougue.

 Partem do princípio de que estes pequenos interesses individuais, escusos e obscuros são introduzidos no âmago do poder central eles dominam o Estado nacional. No Brasil são visíveis os resultados catastróficos em todos os tempos e lugares.


EL GRECO 1541-1616 Cardeal Don Fernando Niño de Guevara c. 1600 óleo 171 x 108 cm Museu Metropolitano NY
Fig. 06 - O onipotente inquisidor espanhol no centro de um sistema de terror e de amedrontamento no momento em que este império espalhava as suas posses sobre todo planeta.  Responsável em manter a ortodoxia do projeto  ”Por Deus e pelo Rei”. Para este agente obcecado por este projeto, pouco importava os métodos, pois este fim justificava os meios. Entre eles a denúncia vazia, a meia verdade e as aparências. Este terror gratuito e apenas com objetivo de reprodução do poder esgotaram e minaram a paciência do Poder Originário. Este era solenemente contornado, pois a ortodoxia se expressava através do sangue real de origem divinizada e mitificada em companhia da nobreza hereditária espanhola.
A pilhagem dos povos submetidos ao sistema colonial, e enriquecia e manteve este sistema em permanentes crises e sustos.   

Exemplos não faltam inclusive após a Abertura Política brasileira. A vida coletiva torna-se uma impossibilidade, nos altos planos da republica, e o cidadão sofre os piores vexames. Falsificam-se os contratos de uma nação e que são usados para forjar leis e que fato são tapumes para que a imoralidade e a corrupção prosperem. Esta corrupção ficou evidente quando o jornal Correio do Povo, Porto Alegre, ano 111, n° 277, 04.07.2006, p. 4, escrevia no seu editorial.

“um quinto do Congresso, mais de cem parlamentares, está sob investigação do Ministério Público Federal  responde a processo criminal. São 77  inquéritos criminais e 45 ações perante o Supremo Tribunal Federal.  Todos da atual legislatura”

 A fofoca patológica, o conchavo e o boato escamoteiam e reforçam esta corrupção. Esta corrupção derramada do vértice constitui um perigo para todo o poder nacional. Escorre do alto, onde nasce, potencializando  todo o seu veneno no solo da nação ao atingir as raízes de cada célula municipal.

Fig. 07 – A biografia do artista multimídia Joseph Beuys (1921-1986) esta repleta de eventos como este onde toca para um assustado cavalo. A denúncia é clara contra o marketing e clamor da propaganda e que fato não produzem mais do que susto e não podem acrescentar mais ao mundo contemporâneo do que ruído. A referência à denúncia vazia de sentido e carente de provas.

O fato concreto e objetivo conhecido, identificado na hora certa e aplicado na dose certa, o boato e denuncia vazia podem tornar-se um excelente remédio, ao exemplo do veneno. Uma das características do boato, do conchavo e da fofoca é a sua efetiva e rápida circulação. A circulação dos “pasquins” açorianos mantinha a coerência de uma comunidade pela circulação de informações essenciais. O interesse sadio,  pela vida alheia, abria janelas para as socializações e em relação aos quais não há necessidade de mostrar o seu papel cultural e econômico. Muitos almanaques e jornais brasileiros, do presente e do passado, incorporaram esta estratégia herdada dos “pasquins” açorianos, para chegar ao seu público.

No entanto o seu limitado suporte SEMIÓTICO, e a estreiteza de seu repertório, não constituem justificativas suficientes para desqualificar liminarmente a vítima que é objeto da denúncia vazia e que num primeiro momento passa como amais meridiana verdade, ancorada na propaganda e marketing.

CRUIKDHANK George - 1792-1878 - Desembarque dos despojos de  Missão Polar - 1819
Fig. 08 Os artistas gráficos, do inicia da era industrial não se cansavam em ridicularizar projetos de iniciativa pública ou privada e, na maioria das vezes, os dois em conluios obscenos e ridículos trombeteados aos quatro ventos como propaganda e marketing temerário. Para escamotear esta obscenidade e os evidentes fracassos, organizavam eventos retumbantes com este fantástico retorno de uma expedição inglesa para trazer os produtos dos polos terrestres para o comercio e a indústria britânica.

Em época de profundos embates políticos, econômicos e sociais que precederam a soberania do BRASIL a DENÚNCIA VAZIA grassava em janeiro de 1813. Assim consta na página 35, do  nº 56, no setor  de Literatura e Ciências, do Correio Braziliense:

...Aquelles que chamam ao Dºr. Vicente criminoso, saõ os obrigados a provar o crime, e naõ elle a provar sua innocencia. Insinua também o A. que " a opinião he contraria ao Dºr." Esta insinuação he contraria ao facto; c os Leytores de nosso Periódico teraõ nelle achado assaz, para conhecer que bem longe de que a opinião fosse contra os deportados, personagens de mui alta graduação, tanto em Portugal como na Inglaterra, tomaram o seu partido ; assim como nós fizemos: naõ porque nos atrevêssemos a asseverar de todos, nem ainda de algum delles em particular, que naõ tivessem commettido crimes, pelos quaes merecessem ser castigados ; mas porque sorfreram innocentes aos olhos de todo o direito ; visto que foram castigados sem processo, sem provas, sem sentença.

Nada he mais doloroso na ordem da natureza ; nas nada ha mais indispensável na ordem politica: a transgressão dos deveres n.oraes conduz á perda das prerogativas civis: a gradaçaõ desta perda eslá na razaõ da gradaçaõ dos males cm offensa da sociedade, de que ella procede."

Porém em janeiro de 2013 continua com redobrado,  potencialidades e todo o se vigor de todas tecnologias de controle da criação, circulação e de feedback  informação. A FOFOCA alastrou-se sem MEDIDA e PROPORÇÃO e é usada como arma mortal e incontrolável nas mãos dos piores interesses. As meias verdades nivelam o mais alto magistrado ao pior celerado sentado diante dele, O Correio Braziliense de janeiro de 1813 continua atual e o seu potencial só aumentou as potencialidades de gerar subtis versões dos fatos.


Fig. 09 -  O efeito mais devastador da denúncia vazia não é só o descredito dos autores, mas a completa anestesia e morte do Poder Originário em relação aos projetos públicos, particulares e governamentais. Este Poder Originário de um Estado estará, cego, surdo e mudo para qualquer anuência, deliberação e  necessária decisão  necessários para implementar projetos públicos, particulares e governamentais.
 O efeito mais devastador não é a natureza da versão distorcida do fato. O que realmente assusta é o crescente descrédito de tudo e de todos que estas denuncias, que depois se revela infundadas,  espalham e fazem prosperar especialmente entre a nova geração. Mentiras que só revelam a sua natureza quando os meliantes do bem público embolsaram os lucros e tratam de estarem distantes e blindados contra toda justiça e reparação dos males cometidos. Entre estes males estão o furto e aniquilação da confiança, da ética e das energias da nova geração. Nova geração da qual foram subtraídas, por estes impostores,  as energias, os créditos e a confiança suficiente para “a construção de outro mundo possível”. Mundo projetado que desanda e chega à ruina total já na etapa da fecundação deste outro mundo. O resultado prático é o mecanismo de fuga para a alienação, drogas e um caminho aberto para a marginalidade e o crime de toda ordem.
 Etapa da fecundação deste outro mundo que nenhum evento pode substituir manter e reproduzir se. “Por mais intensos, chamativos e populosos que tenha sido um “Maio de 1968”, um “Woodstock” ou “ um “Ocupa Wall Street”..., o eles são pontuais. Como tais são rapidamente absorvidos pela lógica silenciosa e subliminar da distorção dos fatos. Enquanto estia denúncia vazia continua silenciosamente a gotejar o seu veneno no espaço publico e individual.

Resumindo: a denúncia vazia constitui uma forma de desqualificar, humilhar, atropelar e passar por cima para tirar vantagens pessoais, ou para o seus. A denuncia vazia  busca a onipotência, a onisciência, a busca de eternidade e de onipresença sustentada por projetos cujo solo e raízes são embuste e as meias verdades. O seu enfrentamento, seu tratamento e a sua cura tornam-se impossíveis na medida de quem deseja realizar no âmbito de tal solo e raízes.  A façanha e a fortuna do sucesso supõe a ruptura epistêmica e estética d o solo e das raízes das quais a vítima se alimenta enquanto se encontra na heteronímia deste processo de desqualificação programada. Esta vítima necessita de uma ruptura epistêmica e estética para perceber o problema do lado de fora e ter um ponto de apoio de sua alavanca salvadora. Já para o mediador, interventor e atravessador esta ruptura será impossível enquanto persistir no caminho de promover a denúncia vazia. 
Para o mediador, ao interventor e ao atravessador estas rupturas são impossíveis. Na sua ótica obscena, não existe culpa, remorso ou reconhecimento de erro, pois todas fazem assim. Eles argumentam, que em Arte, em Política e em Esporte, não há como pedir perdão, no que eles têm plena razão.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
Correio Braziliense, vol. X. nº 56, janeiro de 1813
 
Maio de 1968
Ocupa Wall Street
 
O PATRIOTA jan.1813 – dez 1814 - 18 números
 
PODER ORIGINÁRIO
http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html
Woodstock
 CEGO SURDO e MUDO
 
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