sábado, 27 de dezembro de 2014

109 - NÃO FOI no GRITO

O REGIME COLONIAL SILENCIOU VIEIRA
...com os seus próprios argumentos.

“Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus para vós, e o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes”.
Do “SERMÃO aos PEIXES” de Pe. Antônio VIEIRA  - 1654 – São Luís do Maranhão
Fig. 01., Em muitos aspectos as obras, os pensamentos e a memória do  Padre Antônio VIEIRA pode ser comparada com a temerária aventura do peixe-voador que tenta se equilibrar provisoriamente acima e por fora do Regime Colonial lusitano. Vindo deste regime e um dos seus devotados agentes ele não se conformava com as faltas de luzes, as  injustiças e a cegueira que este mar impunha aos seus habitantes. Na contemporaneidade o desempenho do  peixe-voador pode ser comparado com o deslize do “mouse” sobre a tela do monitor.

NÃO FOI NO GRITO que a retórica, o verbo e os textos do Pe Antônio Vieira desapareceram e foram varridos,  escondidos e dissimulados da memória brasileira. O Regime Colonial lusitano usou o esquecimento, o silêncio e a ignorância  depois de  condenar a voz do pregador, em vida, “ao silêncio obsequioso”. Voz incômoda, desaparecido, em 1697, em Salvador na Bahia. Depois de silenciar física e presencialmente o  Regime Colonial lusitano dedicou-se a apagar a sua memória. Velou e patrulhou silenciosamente para que não circulassem os seus escritos incômodos e muito menos fossem objeto de estudos  e de recomendações.  
Fig. 02. Padre Antônio VIEIRA, nascido no dia 06 de fevereiro de 1608 em Lisboa e faleceu a 18 de julho de 1697 em Salvador (Brasil)

Enquanto vivo Antônio Vieira usou a retórica, as letras e conquistou destaque no púlpito, para materializar as sua mente ativa, brilhante e coerente com a sua realidade. Nesta realidade buscava apoio para gerar METÁFORAS como aquelas das COMPARAÇÕES entre a natureza e as ações dos HOMENS e dos PEIXES.  METÁFORAS que atravessam todo o discurso de Vieira e contribuem para a criação de uma serie de pensamentos materializados em  textos que continuam a se projetar através do tempo. Vieira gerou uma obra coerente por meio da cuidadosa escolha do VERBO ELOQUENTE que chega intacto ao nosso TEMPO devido ao registro impresso. O orador parte do empírico para ancorar esta façanha e fortuna naquilo que todos conhecem em todos os tempos.  Com o seu VERBO ELOQUENTE  Vieira conduz o seu público  para a abstração, ao desconhecido e para a surpresa daquilo que ninguém aguarda.  A surpresa se origina no fato da sua sólida descrição do que todos parecem conhecer e são capazes de ler.
Pieter BRUEGHEL o Velho 1525-1569 - Peixe maior engole o menor
Fig. 03. O Padre Antônio VIEIRA, conhecia a culturas e arte do Flandres. Esta imagem - divulgada em gravuras - é do seu século anterior ao pregador, político e defensor dos mais fracos e inválidos pilhados pelos prepotentes e oportunistas.   

Como intelectual consciente e seguro da perenidade da sua obra não esconde a sua logística, suas estratégias e suas táticas. Na logística evoca aquilo que a maioria de sua audiência havia experimentado algum dia como migrante para o Maranhão como os navios, as águas, os seus habitantes nativos e as rotas marítimas.
Outra cousa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes
Na estratégia vale-se das METÀFORAS retirados desta experiências tangíveis. Nas táticas surpreende, desarma as mentes mais resistentes e nelas planta palavras memoráveis e que jogam estas inteligências resistentes acima e fora da Natureza e do seu quotidiano numa colônia vigiada e patrulhada. 
Fig. 04. A percepção dos desmandos do regime colonial lusitano pelo Padre Antônio VIEIRA foi duramente exposto e perpetuada nos seus escritos, O seu projeto de um império lusitano, como aquele de Hipólito José da Costa foram liminarmente descartadas por um projeto e um pacto transnacional  corroído por espíritos mesquinhos e incapazes de perceber as suas competências e limites e trabalhar arduamente para trazê-las ao mundo empírico.. Não e suficiente um voluntarismo de pessoas que podem eventualmente serem boas ou más. È necessário um regime que seja sustentado por um projeto e um pacto social, econômico e político justo, bom e belo que galvanize todas as vontades, mentes e sentimentos desta nação imaginada.

Colônia na qual todos sentem, veem e sabem que os fracos, os índios, os escravos e os pobres são vigiados, patrulhados e no final são devorados em cardumes.
“Os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos senão que devoram e engolem os povos inteiros”.
Fig. 05. O polvo é o animal que para o Padre Antônio VIEIRA, é o mais traiçoeiro e ameaçador. As palavras do pregador jesuíta relativizam o próprio Judas. Este só sinalizou, mas não prendeu. O polvo engana e prende a sua vítima nos seus tentáculos com ventosas e a devora viva. Para   THOMAS HOBBES DE MALMESBURY (1588-1679) o mítico POLVO GIGANTE do imaginário popular é uma das bases empíricas para criar o seu LEVIATÃ.

A METÁFORA é tanto mais densa ameaçadora e profunda quanto mais insondável é o perigo. Perigo personalizado no POLVO Pelágico, apropriado dos insondáveis repertórios populares dos marinheiros e pintado por Vieira como animal marinho traiçoeiro e mortal para a fauna marinha.
  Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor! Polvo.
Se Judas  Escariotes encontrou desculpas e atenuantes na palavra de Vieira, os traços do comportamento do polvo podiam serem facilmente encontrados nos humanos bem concretos e na sua assistências na igreja.
Fig. 06. O orador sacro explora, com maestria, o imaginário popular que cerca o  polvo. Transposto ao mundo da retórica  pelo Padre Antônio VIEIRA, este  animal torna-se metáfora para o mundo humano muito mais traiçoeiro. Criatura humana capa de prender  as suas vítimas em cardumes   e as prende -  nos seus tentáculos com ventosas - e as devora vivas .

Enquanto o polvo se esconde nos abismo do mar o peixe voador se exibe na superfície e insatisfeito com a sua natureza.
“Com os voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus para vós, e o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes. Se acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e conhecereis que não sois aves, senão peixes, e ainda entre os peixes não dos melhores. Dir-me-eis, voador, que vos deu Deus maiores barbatanas que aos outros de vosso tamanho”.
Fig. 07. Os rituais antropofágicos dos índios brasileiros são, para o Padre Antônio VIEIRA, menos condenáveis do que as devorações dos civilizados. Estes devoram as suas vítimas vivas, aos cardumes e multidões sem fazer o menor ritual. Rituais antropafágicos sublimados nas cerimônias cristãs e retomado pela cultura brasileira com o MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO..

Viera antecipa em três séculos o MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO BRASILEIRO ao descrever as comilanças daqueles que comem uns aos outros. Comem vivos aos cardumes e em sacrifício para a sua cobiça ilimitada. Basta apenas farejar uma vítima potencial desta cobiça
“Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido”.
Não só os tapuias devoravam uns ao outros. O colonizador também devorava os seus semelhantes em nome de uma civilização superior e devorava vivo as suas vítimas.
O Regime Colonial lusitano fez de tudo para apagar a memória das denúncias, das revelações e das verdades incômodas do pregador jesuíta. Fácil de apagar - sem gritos, sussurros ou murmúrios - pois poucos sabiam ler. Com a imprensa censurada e com a muralha do “NIHIL OBSTAT” em nome do bispo e da Santa Inquisição raros textos circulavam e eram lidos, meditados e colocados em contraposição ao Regime Colonial. O que valeu a redenção dos textos do pregador foi a circulação em outras culturas e línguas. Previdente este orador confiou o seu pensamento a uma diversidade de mídias além da fala e da encenação retórica.
Na contramão os dissimuladores cobrem o túmulo e as obras deste pensador do período colonial brasileiro com mitos e afirmações generalizantes e que são índices claros de que nunca leram e muito menos entenderam este pensamento. Isto se não criam resenhas nas quais mais confundem, naturalizam e a misturam com todo lixo filosófico do seu próprio tempo. A mentalidade estreita e imediatista destes mediadores improvisados se apropria da palavra do orador e raciocinam “Contentai-vos com a vossa religião  e com a vossa ordem, e não queirais ser político, pois sois jesuíta”. 
Pieter BRUEGHEL o Velho 1525-1569 - Peixe maior engole o menor - Detalhe
Fig. 08. A atualidade do Padre Antônio VIEIRA permanece na medida em que ele aponta a permanente e continuada disposição humana em exercer o seu poder de domínio de apropriação e de transformação do que lhe cai sobre o olhar, mente e mãos. , A  lógica huna é lei e o seu interesse não conhece competências e limites.

A extinção da ordem jesuíta, a sua execração e a expulsão da Europa dos seus membros e das suas colônias, jogavam contra a memória do Pe. Antônio Vieira. Não havia argumentos válidos contra a Igreja e o Estado unidos e menos dignos de acolhimento, consideração e separação do trigo do joio. Os jesuítas recolhidos à Rússia, de Catarina a Grande,  tiveram imensas dificuldades para preservar e fazer retornar o seu patrimônio simbólico para a Cultura Ocidental europeia. Este renascimento jesuíta foi lento, inseguro e cheio de reações adversas apesar de muitos revolucionários franceses de 1789 terem saído dos antigos colégios jesuítas, agora inativos. O regime republicano brasileiro abriu-lhes uma porta por meio da Lei Federal nº 173 de setembro de 1893[1].
WESTAL William 1781-1856 - começo do Dilúvio 1848 óleo 127 x 193 cm Tate Galery
Fig. 09. O Padre Antônio VIEIRA, aponta a vantagem dos peixes diante de um dilúvio. Os peixes possuem na  água o seu elemento natural e catástrofe líquida não os preocupa e só traz-lhes vantagens e presas inesperadas.

Viera também percebeu, como HOBBES no seu LEVIATHAN,  que as comilanças daqueles que comem uns aos outros só cessam diante de alguém mais forte é capaz de lhe DAR ou TIRAR algo do qual depende a sua sorte. Na metáfora da ARCA de NOÉ os animais suspenderam temporariamente se comerem vivos enquanto os cardumes de peixes continuaram a se devoraram vivos aos cardumes ou singularmente.
“O mesmo foi (ainda mais claramente) depois do dilúvio, porque, tendo escapado somente dois de cada espécie, mal se podiam conservar, se se comessem. E finalmente no tempo do mesmo dilúvio, em que todos viveram juntos dentro na arca, o lobo estava vendo o cordeiro, o gavião a perdiz, o leão o gamo, e cada um aqueles em que se costuma cevar; e se acaso lá tiveram essa tentação, todos lhe resistiram e se acomodaram com a ração do paiol comum que Noé lhes repartia. Pois se os animais dos outros elementos mais cálidos foram capazes desta temperança, porque o não serão os da água? Enfim, se eles em tantas ocasiões, pelo desejo natural da própria conservação e aumento, fizeram da necessidade virtude, fazei-o vós também; ou fazei a virtude sem necessidade e será maior virtude”.
Não bastava a simples descrição e advertência do Pe. Antônio Vieira . O habito da devoração reciproca se impunha com todas as forças e era mais fácil silenciar esta voz isolada do que contrariar os hábitos veteranos.  Os dissimuladores das incômodas verdades possuem toda a razão num aspecto: a História não se repete. Agarra-se a esta estreita tábua que o acaso lhes alcança no seu naufrágio e passam a insistir naquilo que lhes interessa que é o dia de hoje, do aqui e do agora. Assim tudo permanece entregue à Natureza. Para os dissimuladores das incômodas verdades de Antônio Vieira não há mais NADA ANTES, DURANTE e APÓS ele morto e sepultado nesta Natureza brasileira e com todas estas velharias decrépitas de um Regime Colonial. Dissimuladores das incômodas verdades que não alcançam pois elas pertencem a uma civilização e da qual nunca tiveram a senha ou chave de acesso. Querem ignorar a premissa de toda a civilização é uma construção artificial. Civilização que naufraga e perece no instante seguinte em que não é mais cultivada e reproduzida.
Fig. 10- Por mais inverossímil que seja a  metáfora da ARCA de NOÈ ela evidencia a capacidade humana das previsão, do projeto e da sua paciente realização. Na concepção do  Padre Antônio VIEIRA, uma civilização artificial, planejada e executada por uma comunidade motivada pode ser eficiente contra a opinião geral descrente e vivendo até último momento um regime, uma ideologia e um cardume inteiramente condenado a ser engolida pelo mais forte e esperto.

A criatura humana é responsável na medida dos dons que possui e das escolhas que realiza em nome destes dons e liberdade. Assim não é possível cobrar dos peixes qualquer sanção moral dos seus atos.
Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas mãos, que tomá-lo indignamente! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade.




 FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
Não só os tapuias comem uns aos outros...”  do
SERMÃO aos PEIXES de Pe. Antônio VIEIRA  - 1654 – São Luís do Maranhão
Texto
MARANHÃO e Pe. VIEIRA


HUMILDADE: recitada  por LIMA  DUARTE

O RISO e PRANTO em VIEIRA

ANTROPÒFAGOS e CANIBAIS
Manifesto


METÀFORA

Algumas obras do Pe. Antônio VIEIRA (1608-1697)-
na COLEÇÂO BRASILIANA de Jose (1914-2010) e Guita(1916-2006) MINDLIN
Sermões
Cartas
Textos

A HISTÒRIA NÂO SE REPETA a NÃO SER como FARSA

Texto do LEVIATÃ de Thomas HOBBES (1588-1679)
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
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Este material é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a formação histórica deste idioma.

Referências para Círio SIMON








terça-feira, 16 de dezembro de 2014

108 - NÃO FOI no GRITO

NACIONALISMO & HISTÓRIA
Fig. 01 – A construção de um Estado Nacional confunde-se com a religião e a crença num mito. De outra parte,, este mito, se naturalizou e passou a se ocultar longe de qualquer crítica ou luz da razão.

O nascimento, desenvolvimento e reprodução do ESTADO NACIONAL NÃO FOI no GRITO. A crença do CIDADÃO no  ESTADO NACIONAL entrou subliminarmente na sua vida. Foi substituindo e transfigurando velhas crenças míticas ou naturais, tornando-se uma 2ª natureza e visto como indispensável. Práticas e crenças milenares foram deixadas de lado como arcaicas e incompatíveis com a nova religião do ESTADO NACIONAL
Fig. 02 – Um incômodo símbolo do Estado Nacional nazista Alemão numa doca do porto de Montevidéu. Esta proa do navio de guerra Graf Spee é um ´índice como um ESTADO NACIONAL pode derivar para a busca, a qualquer da hegemonia planetária.. A criação de um ESTADO NACIONAL  constitui  uma ferramenta humana como qualquer outra. Porém quando seu controle, uso e reprodução servem de ferramenta para projetos de uma ideóloga, de uma religião ou para um partido  apagam e ocultam qualquer crítica e a razão emcarca num sono onde tudo se torna possível, legítimo e permitido..

 No entanto se as necessidades básicas da humanidade - como o AR, da ÁGUA e da BIOSFERA – forem geridas e polarizadas  pelos GOVERNOS dos ESTADOS NACIONAIS, o seu PODER ORIGINÁRIO corre sérios riscos de ser sufocando e morrer de sede e de fome. No dia a dia do PODER que os GOVERNOS dos ESTADOS NACIONAIS DIZEM ou PRETENDEM representar, agir em seu nome os contratos sociais, políticos e econômicos que unem as DUAS PARTES são muito frágeis, pontuais e questionáveis. Aos GOVERNOS dos ESTADOS NACIONAIS interessa prioritariamente se perpetuar nas benesses de um centralismo absurdo e nefasto para o PLANETA como um TODO.
Nas atuais narrativas da HISTÓRIA - que se quer Geral ou regional - pouco restaria se fosse retirado a lógica, o suporte do discurso e do pensamento fundado e se legitimando por meio do NACIONALISMO.
Fig. 03 – Éric HOBSBAWN em Porto Alegre entre os leões da prefeitura municipal. A sua obra mostra que os ESTADOS NACIONAIS estão muito longe de serem meros “LEÕES de CHÀCARA”. A  construção de um Estado Nacional confunde mito, crença e substitui a religião. A criatura humana que mitifica ou naturaliza o ESTADO NACIONAL age  qual aprendiz de feiticeiro que se volta contra o temerário e devora

Hobsbawn escreveu “NAÇÕES e NACIONALISMO desde 1780”. Acertou no foco na medida em que as atuais narrativas necessitam do conceito e da prática do NACIONALISMO para se gerar, manter e reproduzir por tempo indeterminado. Porém o panorama apresentado ao historiador muda na medida em que prestarmos atenção à epigrafe “programa, mito e realidade” desta mesma obra. Ao prescindirmos deste MITO e PROGRAMA das NAÇÕES e NACIONALISMO emergem verdades bem mais universais e necessárias para a criatura humana neste planeta.
Fig. 04 –  A intempestiva e indiscriminada resposta do  Estado Nacional Americano  aos ataques da Torres Gêmeas da Nova York escancarou um vasto e confuso panorama de forças, grupos e ideologias que estavam  agindo à margem de qualquer ESTADO NACIONAL. A reiterada suspeita de qualquer seguidor de Maomé reativou o velho embate das Cruzadas contra muçulmanos das mais variadas tendências. Embate materializado nos prisioneiros de Guantánamo e de um numero de prisões secretas da CIA ainda pouco claras

A HISTÓRIA será completamente diferente - do que consta nos atuais manuais - se o foco da investigação, da narrativa e da divulgação do que aconteceu e está acontecendo com as necessidades básicas da humanidade - como o AR, da ÁGUA e da BIOSFERA - sem considerar a ação dos ESTADOS NACIONAIS.
Se olharmos o avesso é possível constatar que a criação, manutenção e reprodução dos atuais ESTADOS NACIONAIS foi altamente danoso para as necessidades básicas da humanidade - como o AR, a ÁGUA e a BIOSFERA e comprometem o futuro deste mesmo gênero humano neste planeta.
Fig. 05 – A religião do Estado Nacional percebe o mito, a crença e as praticas tradicionais - alimentadas por outra ideologia -  como concorrente. Na época da Guerra do Paraguai muitos templos eram refúgio militar, fortaleza e ao mesmo tempo severamente atacados como a Igreja de Humaitá e reduzida à ruinas.  Este fato repetiu-se ao longo da Primeira Guerra Mundial.  Logo após  Guerra do Paraguai -i 1864-1870- o  Estado Nacional Brasileiro separou-se oficial e legalmente da Igreja.

A lógica, o suporte do discurso e do pensamento do NACIONALISMO, transvestido em MITO, tomou o lugar da CRENÇA, da ESPERANÇA RELIGIOSA da Idade Média. Prova disto são os inchaços, imensos templos e acampamentos nos quais se transformaram as metrópoles nas quais se localizam os atuais equipamentos administrativos destes ESTADOS NACIONAIS. Acumularam pessoas, capitais e equipamentos de toda ordem a semelhança de Meca, de Roma ou qualquer outro centro de romaria de fieis.
Fig. 06 – O islamismo está tão distante da veneração de imagens físicas como está distante da aceitação de um ESTADO NACIONAL não coerente com os preceitos abstratos e subliminares das HÁDICES. No mundo, regido pelas normas do CORÂO,  os ESTADOS NACIONAIS não só lhe devem obediência com são “culpados de tudo” que não estiver de acordo a tradição dos “HADICES” e portanto podem ser contestados e substituídos e eliminados como infiéis em nome do profeta Maomé.

Na hora das catástrofes, como as guerras provocadas, mantidas e reproduzidas por estes ESTADOS NACIONAIS, tiram PROVEITO da PENÙRIA e dos SOFRIMENTOS do PODER que os sustenta, alimenta e reproduz os seus GOVERNOS.
Se os jovens europeus são atraídos pelo islamismo, a ponto de prontificarem como potenciais mártires desta doutrina, é necessário admitir que existem causas. Uma das causas é constituída pelos mercadores do PODER dos ESTADOS NACIONAIS, os seus atravessadores e os corruptos. Estes tomam como refém os GOVERNOS destes ESTADOS NACIONAIS. Criam uma clivagem completa, radical e incorrigível entre o PODER ORIGINÁRIO desta NAÇÃO e o GOVERNO que julgam seu refém e provedor perpétuo. Está aberto o caminho para os potenciais mártires das doutrinas islâmicas.
No contraditório é necessário admitir os imensos benefícios potenciais e as perspectivas que os ESTADOS NACIONAIS propiciaram para a humanidade. Especialmente considerando aqueles ESTADOS NACIONAIS nascidos, mantidos e reproduzidos a partir do CONTRATO SOCIAL e da férrea divisão de limites e competências do legislativo, executivo e judiciário. No entanto basta o mais leve deslize intencional ou involuntário neste ÓTIMO potencial para prosperar a corrupção, a clivagem e desencanto, em especial da juventude.
MICHAEL WADLEIGH em Lima - PERU 12.2014
Fig. 07– O sistema alimentado e reproduzido pelos ESTADOS NACIONAIS,  contornou qualquer voz isolada ou coletiva da contracultura, Woodstock ou anarquista.  A  religião, o mito e crença na construção de um Estado Nacional confundiu, substituiu e incorporou os gestos, os ícones e as ideologias desta contra cultura.. As vozes dissonantes da contracultura serviram para alertar  o ESTADO NACIONAL que agiu rápido e esconjurou  estes  temerários e devora

Sempre é necessário escutar  Guimarães Rosa (1963:18) [1]
Querer o bem com demais força e de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar. Esses homens ! Todos puxavam o mundo para si, para concertar consertando. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo .

Esta corrupção é irresistível para os poucos preparados para suportar o violento jogo para encontrar um ponto provisório de equilíbrio homeostático entre as mais inesperadas força e energias. Os marqueteiros, os atravessadores e mediadores de toda ordem deliberam e decidem. É necessário escutar uma das vítimas desta sedução como Mourão Filho que cunhou uma frase que se encaixa perfeitamente a política brasileira:
 "Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois, a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso"
É necessário estar atento ao fato de que a construção de um ESTADO NACIONAL constitui um projeto, uma iniciativa artificial e colocado para além da e contra a  NATUREZA dada. Neste âmbito “TODA ESCOLHA É UMA PERDA”.  A escravidão voluntária, o deixar-se arrastar e caminho com o rebanho é mais fácil, mas de resultados imprevisíveis senão FATAIS. Todo rebanho caminha para o matadouro, deixar-se arrastar dilacera o organismo vivo e ninguém se liberta por si mesmo da escravidão, mormente voluntária.



[1]                - GUIMARÃES ROSA,  João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro : José Olympio, 1963, p. 18..

Fig. 08– O evento de  Woodstock evidencia a capacidade do sistema - alimentado e reproduzido pelos ESTADOS NACIONAIS -  contornar qualquer voz isolada ou coletiva da contracultura, ou anarquista.  Tato o público participante do evento pousou para as imagens, as incrementou para que outros editassem usassem e as reproduzissem sem controle dos jovens atores para espectadores acostumados e dependentes do marketing, a propaganda e a edição dos produtos audiovisuais.

As muralhas, as fronteiras nacionais e o rígido controle por meios sofisticados que identificam e controlam cada cidadão nunca foram tão alarmantes e o prenderam aos desígnios de uma determinada nação. Evidente que o discurso, a propaganda e as exceções à regra geral são exibidos como contrario a esta verdade
A declaração de uma guerra - da parte de um ESTADO NACIONAL - é provocada por uma avalanche no meio da qual é difícil apontar uma causa central e determinante além das alegações e desmentidos. A GUERRA do PARAGUAI - deflagrada no dia 13 de dezembro de 1864 - ainda não teve alguém competente para apontar a sua causa central e verdadeira.  Os QUATRO ESTADOS NACIONAIS envolvidos diretamente neste genocídio do PODER ORIGINÁRIO devem ainda uma explicação racional 150 anos depois do início deste genocídio.
Fig. 09 – O Estado Nacional do IRAQUE foi apanhado entre as suas frágeis, contraditórias e confusas base,  face a coalisão de ESTADO NACIONAIS armados estratégica e militarmente até os dentes Estes mesma coalisão estrangeira infligiu os mais absurdos, cruéis e bárbaros martírios ao PODER ORIGINÀRIO IRAQUIANO . O efeito desta barbárie abriu a Caixa de Pândaro da qual não param de saltar personagens cada vez mais insandecidas. .

A religião do ESTADO NACIONAL estabelece incontáveis prosélitos e dependentes como em qualquer ortodoxia. Prosélitos e dependentes que brandem - alto e bom som -  o grito de guerra “CRÊ ou MORRE”. O maniqueísmo entre os polos NACIONALISTAS ou ANTINACIONALISTAS - ou “crentes” ou “traidores” – já produziu mais vítimas fatais do que qualquer PESTE. Gritos ao estilo do “HEIL HITLER”, “AME-O ou DEIXE-O” ou “UNIDOS JAMAIS SEREMOS VENCIDOS” possuem por fonte subliminar o ESTADO NACIONAL ou motivação da conquista de seu GOVERNO. Repetidos e inculcados como crença única possível são combustível e fósforo capazes de exterminar qualquer oponente ou crítico. O combustível das fogueiras da INQUISIÇÂO PÓSMODERNA está em cada câmara ou controle eletrônico, senha ou identificação digital do cidadão. Os que não se enquadrarem num determinado ESTADO NACIONAL são os NOVOS HEREJES dignos de serem algemados, presos liminarmente e exterminados física e silenciosamente. A crença no ESTADO NACIONAL produz uma avalanche de imigrantes “ILEGAIS”, pressupostos terroristas incorrigíveis e inúteis.
Fig. 10 – As vítimas fatais, anônimas e silenciadas pela Guerra do Paraguai comungam silenciosamente com os genocídios que a  construção, manutenção e reprodução do Estado Nacional produziu em número e barbárie que as mais raivosas religiões, as crenças mais absurdas e os mitos mais tresloucados não conseguiram produzir . O destino dos rebanhos sempre é matadouro..

A toda ação corresponde uma reação igual e contrária. Se a crença no ESTADO NACIONAL foi uma exitosa construção humana, as regiões, as culturas e as crenças islâmicas parecem dispostas a provar o contrário e que podem dispensar esta construção.
Ninguém está autorizado a patrulhar a liberdade de crer, de ir e vir,  de possuir  convicções arraigadas e interesse pessoais e coletivos. O que torna perigosas estas crenças, convicções e interesses - pessoais ou coletivos - é quando eles se transfiguram em PROJETOS. PROJETOS do exercício do PODER acima e fora de qualquer contrato socialmente aceito (VOLKSGEIST), por tempo determinado (ZEITGEIST) e no lugar do seu exercício (WELTGEIST).

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
BOÉTIE, Etienne 1a.  Discurso da Servidão VoluntáriaTradução de Laymert G. dos Santos.  Comentários de Claude Lefort e Marilena Chauí.  São Paulo : Brasiliense, 1982. 239p.
GUIMARÃES ROSA,  João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro : José Olympio, 1963..

HOBSBAWN Eric (1917-2012). NAÇÕES e NACIONALISMO desde 1780 programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, 230

MOURÃO FILHO, Olympio. Memórias: a verdade de um revolucionário. Porto Alegre, L&PM, 1978.

FONTES NUMÉRICAS- DIGITAIS
MICHAEL WADLEIGH em LIMA no PERU

CIA manual KUBARK

CRIMES em NOME do ESTADO BRASILEIRO
HOBSBAWN em PORTO ALEGRE

URUGUAI dá o EXEMPLO de ESTADO NACIONAL

VALE dos CAIDOS
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Referências para Círio SIMON