sábado, 17 de janeiro de 2015

111 - NÃO FOI no GRITO


BRASIL em janeiro de  1815 e  2015

RECONSTRUINDO o REINO e 
PREPARANDO o IMPÉRIO.
Fig. 01 -  São naturais as hesitações do príncipe Regente Dom João VI diante das dúvidas, das pressões políticas, econômicas e sociais  levando-o a beira de delicadas escolhas pontuais e urgentes diante da nova era contratual, da era industrial e emergência da burguesia. A  Abertura dos Portos do Brasil, a  elevação do Brasil ao Reino e evidente potencialidade América sobre a Metrópole e as colônias africanas e asiáticas levavam o Brasil a pretender e ter condições reais para aspirar ao estatuto de outras nações soberanas.

A fuga da corte lusitana ao Brasil em 1808 foi a ponta do iceberg de um vasto problema submerso. Após a derrota de Napoleão e o tratado de Paris de 1814 começaram a emergir e aparecer os problemas submersos e que haviam sido procrastinados. Problemas derivados do aniquilamento da administração e da ordem econômica, cultural e social. Neste acumulado da destruição e da postergação urgia a reconstrução. 
Fig. 02 -  A capital do Brasil colonial  ganhava outro sentido com a presença da corte e a consequente transformação em capital de uma rede de colônias africanas e asiáticas. A Abertura dos Portos do Brasil exigia a  ação e a integração dos serviços públicos. A elevação do Brasil ao Reino Unido era um ato legal. Porém os hábitos, a mentalidade e os gostos - gerados por três séculos de heteronomia - eram mais gritantes, entravavam e atrapalhavam qualquer ação governamental mais do que as miseráveis condições materiais nas quais o Brasil vivera até a chegada da corte.

Uma vez que o Brasil havia sido sede da corte sentia-se com autoridade distinta e distante de Portugal. A corte lusitana no Rio de Janeiro foi essencial e preparou a soberania brasileira. Dom João VI em muitos aspectos foi compelido a continuar a política do regime despótico e colonial de  Portugal em relação ao Brasil. Porém  na longa duração História Dom João VI  será lembrado como um passageiro da agonia mas que conseguiu salvar não só o trono como havia conduzido uma nova nação a beira de proclamar a sua soberania.
Projeto embrionário, pois basta uma leitura rápida e superficial do Correio Braziliense de janeiro de 1815 para verificar que tudo estava ainda para feito no Brasil. Porém a semente soberania havia sido plantada. As demais nações desenvolvidas - postos na sua frente - aceleravam a marcha em direção a este ideal.

CORREIO BRAZILIENSE  DE JANEIRO, 1815.VOL. XIV. Nº. 80, pp.121- 127 e 135

Melhoramentos no Brazil.
As gazetas lnglezas tem publicado, que, em consequência de planos propostos pelo Conselheiro de Estado Antonio da  Araújo, se introduzio a planta do Chá, no Brazil, aonde prospera, e da esperanças de ser do tal proveito, que se escuse o pagar annualmente aos Chinezes grandes sommas por esta mercadoria.
Fig. 03 -  O chá da Índia foi uma das especiarias que Portugal distribuía na Europa até este comércio tornar-se monopólio dos britânicos. Estes o transformaram em hábito nacional e o impuseram mundialmente. A pretendida plantação do chá no Brasil, a sua industrialização e a transformação em produto de exportação só se concretizaram timidamente um século depois de anunciado pelo Correio Braziliense em janeiro de 1815.   Obra clandestina dos imigrantes japoneses jamais concorreu com a produção e exportação do café..

Sem nos fazer cargo das observaçoens impertinentes, que alguns gazeteiros fizeram a este respeito, sahissem essas observaçoens d'onde sahissem, devemos dizer, que os Portuguezas saõ obrigados ao Ministro, por esta lembrança e cuidado.
Igualmente mencionaram as gazetas lnglezas, o augmento da navegação do Brazil para a Índia. Esta circumstancia nos dá grandíssimo prazer; desejaríamos ter informaçoens authenticas a este respeito, para as publicarmos ao mundo, como taes cousas merecem ser sabidas, a fim de que as outras Potências vaõ conhecendo o que pode ser o Brazil; e lhe prestem o respeito que convém.
Fig. 04 -  A moeda de 1815 comemorativa da proclamação do Reino Unido. Esta  elevação do Brasil ao Reino Unido era não só uma procrastinação do retorno de Dom João VI para Lisboa. Sinalizava a lenta e segura preparação política, econômica e burocrática da soberania do Brasil. Portugal tinha poucos meios para retomar a antiga hegemonia metropolitana divido que estava entre os antigos absolutistas e os novos constitucionalistas.

Finanças do Brazil.
Grande parte dos melhoramentos de que he susceptível o Estado do Brazil, requerem despezas consideráveis, e he preciso que o Governo tenha os fundos necessários para ellas;  alem dos gastos ordinários da administração publica. Esta consideração nos leva a observar dous pontos importantes; e saõ, um, a economia em diminuir empregos desnecessários; outro em estabelecer os tributos com tal arte, que se facilite a sua cobrança, e se ajude com elles, em vez de embaraçar, a industria nacional.
A nobreza, a magistratura, a repartição da Fazenda, o exercito, a marinha de guerra; absorvem as rendas do Estado; devem logo considerar-se miudamente, quaes saõ as despesas nestes ramos, que se naõ podem dispensar; e quaes aquellas, que saõ desnecessárias, inúteis, ou prejudiciaes.
Fig. 05 -  A tradição do “BEIJA MÂO” mantinha a nobreza lusitana alinhada com o trono.  A tradição portuguesa na qual a sua nobreza era mais um cargo pessoal conquistado e pago do que uma herança familiar ao estilo espanhol. Cargo que  exigia um exercício ativo, rituais e uma constante demonstração de servilismo de súditos leais ao soberano monocrático. Aos olhos do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848),  era algo curioso, anacrônico e o retorno as hábitos e práticas do seu “Ancien Régime”.

Nobreza.
Os nobres Portuguezes estaõ no custume de gozar certas vantages, algumas das quaes saõ mui racionaveis, e próprias da r-raduacaõ da nobreza, e portanto contra estas nada temos a dizer; outras porém resultam da inconveniente influencia que tem os nobres, pezam injustamente sobre o povo, e desfalcam consideravelmente as finanças. Entre as primeiras vantagens contamos as honras, e privilégios da nobreza, as quaes saõ necessárias nos Estados Monarchicos, aonde os differentes gráos estimulam os sentimentos da honra, principio e baze das Monarchias, e ministram ao Soberano um tesouro inesgotável de prêmios, até para feitos, a que se nao pôde dar outra recompensa; depois disto os grandes empregos, em que a dignidade da pessoa faz brilhar a authoridade do cargo, e ajuda a conciliar o respeito do9 povos: estas e outras vantagens dos Nobres, pertencem-lhe indubitavelmente. Porém quando se tracta de lhes dar pensoens, commendas, bens da coroa, e empregos lucrativos, sem que o individuo nobre tenha feito serviços relevantes ; sem que tenha passado pela serie de lugares subalternos, em que estude a profissão a que se destina, até chegar aos mais elevados empregos; entaõ dizemos, que tal systema he contrario á boa administração do Estado, e o dinheiro, que em taes circumstancias se dá aos Nobres, he um verdadeiro desfalque nas finaças, e produz uma oppressaõ relativa nos povos, ¿ Que quer dizer, ver um rapaz com um carachá no peito, denotando, que elle disfruta uma ou mais commendas, sem que tal rapaz alegue outros serviços, nem prove outro merecimento mais do que ser filho de um Conde ou de um Marquez ? Se os nobres querem perpetuar o lustre de snas familias, sejam econômicos, vinculem as suas riquezas, tenham cuidado em naõ esperdiçar seus bens ; e assim teraõ os seus filhos com que manter a própria dignidade, sem que da bolça dos povos se tire o dinheiro, que se naõ pôde aplicar para os nobres, sem manifesta injustiça.
O primeiro ramo de economia, portanto, que recommendamos, he a suppressaõ das pensoens, commendas, bens da coroa, e empregos lucrativos inúteis, que se conferem aos nobres; e esta bem entendida poupança traria ao Erário considerável riqueza.
Alegoria às virtudes de D. João VI 1810- por Domingos Antônio de Sequeira (1768-1837).
Fig. 06 -  Uma nítida imagem do poder monocrático e centralizado e personalizado no ocupante do trono.  As virtudes cívicas personalizadas nos seus soberanos e colocadas no olimpo e acima dos seus semelhantes. As figuras retiradas de um arsenal de representações míticas celestiais são separadas radicalmente do mundo dos mortais e colocados sem conexão além do olhar de figuras no plano terreno. Etnicamente estes personagens são arianos e os seus corpos brancos moldados nos cânones gregos.

Magistratura.
A necessidade de magistrados instruidos, e de legistas formados por uma serie de estudos regulares, he taõ bem conhecida, que naÕ julgamos necessário demorar-nos ema provar. E com tudo o seu excessivo numero he objecto de uma queixa geral em Portugal. A dependência do Ministério, em que os magistrados infelizmente se acham, ja para suas promoçoens, ja porque podem ser tirados dos lugares a arbitrio do Governo, he um mal, que impede a administração imparcial da justiça; porém ha outra dependência ainda mais fatal, que resulta da pequenhez dos ordenados; pois a pobreza lie motivo de naõ se poder combater a poderosa tentação das peitas, ou da influencia dos ricos e poderosos. O numero actual dos magistrados faz impossível que se lhe augmentem os ordenados. Logo, o que neste ramo se devia fazer, éra adoptar differente forma na administração da justiça, segundo a qual se reduzissem a poucos os magistrados letrados, e se lhes augmentassera os ordenados, ao ponto de os fazer perfeitamente independentes.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Rideau de scène du Théâtre de la Cour à l’occasion du couronnement de D. Pedro I er.
Fig. 07 -  Esta imagem de Debret é índice de uma verdadeira ruptura semiótica na tradição governamental portuguesa. Ao examinar a figura anterior (06) salta aos olhos a cultura lusitana na qual seus soberanos personalizam as virtudes. No contraditório desta tradição o francês afasta qualquer personalização.  Debret e investe e cerca este poder com figuras de cidadãos concretos de todas as raças, etnias com suas vestes, hábitos e costumes. A Missão Artística Francesa havia vivido a Grande Revolução na qual os TRÊS PODERES IDEAIS. Separavam-se entre si e buscavam agentes que ocupavam cargos por tempo determinado.
 Estes personagens correspondem etnicamente aos habitantes brasileiros e os seus trajes e objetos são um registro dos usos, costumes e economia local .

A medida de diminuir o numero dos magistrados, e aumentar os ordenados dos que restam, he aqui recommendada, como objecto de economia nas finanças; mas naõ será fora de propósito observar, que dahi resultam outras importantes vantagens ao Estado. Quanto menor for o numero dos magistrados letrados, maior será a concurrencia a esses lugares, e mais seraõ elles respeitados. A Inglaterra naõ tem scnaõ doze juizes; e. por isso naõ ha lugar algum, sem exceptuar os Pares tio Reyno, que seja mais respeitável do que o de Juiz.
Para a administração da justiça nas differentes villas, lugares, e districtos, bastamos juizes territoriaes, e as Câmaras; com tanto que as Curieiçoens sejam bem feitas, e no verdadeiro espirito das leys do Portugal. Os Corregedores deveriam ir ouvir as appellaçoens aos differentes lugares de sua Commarca, e naõ virem os appellantes á terra de sua residência; e somente as appellaçoens dos Corregedores, ou Ouvidores, se deveriam passar para as cidades aonde existem as rellaçoens.
Todos os Jurisconsultos Portuguezes sabem as epochas em que se infroduziiam os Juizes de Fora, as Corrciçoens, &c. e os que meditarem nos factos alcançarão facilmente as causas, porque se fez decahir a magistratura territorial, e se augmentou o numero dos ministros letrados, ao ponto de fazer com que a Magisfatura seja um verdadeiro incommodo para a naçaõ.
Quanto aos Tribunaes, parece-nos, que a maior parte deles merece a sorte que teve a Juncta dos Tres Estados; c os poucos, que devem restar, naõ precisam nem d'ametade dos membros de que se compõem. O Tribunal da Fazenda, em Inglaterra, tem tres Juizes, e um Presidente; e assim mesmo estes juizes vaõ em seu turno fazer a Correiçaõ das Provincias; e as causas nunca saõ demoradas; e naõ nos diraõ, que no Brazil ha mais causas da Fazenda, nem mais complicação das Finanças do que ha em Inglaterra.
A Meza da Consciência, o Conselho de Guerra, o Conselho Ultramarino em Lisboa, saõ tribunaes que se podiam perfeitamente escusar; porque um só indivíduo em cada uma daquelas repartiçoens he quanto basta; Ü assim acontecia antes da sua instituição.
Fig. 08 -  A onerosa atividade dos estaleiros navais havia fornecido, para o reino de Portugal,  as condições das ousadas navegações e a formação de profissionais nesta complexa empresa. A mitificação desta imagem enquanto o governo pretendia  naturalizar sem esforço financeiro, político e profissional remeteram estes êxitos do passado. Outros povos e nações aproveitaram este conhecimento e investissem massivamente na sua própria indústria naval. Assim aniquilavam toda a logística lusitana, deixando a “ver navios estranhos” passarem por Lisboa.

Repartição da Fazenda.
Refere-se uma anecdota sobre o tributo do papel sellado em Lisboa, que illustrará o que vamos a dizer nesta matéria. Quando D. Rodrigo fez novos arranjamentos para a cobrança deste imposto, creou um lugar, de guarda das aparas do papel, a quem deo de ordenado duzentos mil reis annuaes; no fim do anno vendèram-se as aparas, e produziram noventa e seis mil e tantos reis.
Queremos dizer com isto, que naõ basta impor um tributo, para se obter o seu rendimento, he preciso que a natureza do imposto o faça de taõ fácil cobrança, que naõ absorvam os cobradores a maior parte do rendimento. A excisa Ingleza custa na cobrança um e meio por cento; óra comparem isto com o que custa a cobrança dos direitos no Brazil ?
Fig. 09 -  As rotas marítimas entre Portugal, África,  Brasil e Oriente passaram por um processo de fretamento e de terceirização no qual  o governa retinha as alfândegas e controle militar.  Esta terceirizações  e navios fretados pelo governo não só aumentava a presença de naus de outras nações como o efetivo controle e apreensão de barcos portugueses quando o seu governo não pagava ou ficava inadimplente. Como se isto não bastasse estas nações exigiam a posse e o controle econômico de terras especialmente ao redor do rio Minho e da cidade do Porto em consequência do tratado de 1703 de Methuen entre outros.

A formação da pauta dos direitos da alfândega, he matéria de grande importância, e naõ pequena diíficuldade; ésta pauta deve ser formada segundos os princios seguintes : —
1º. Devem-se estabelecer os direitos de importação taõ baixos, que naõ induzam o negociante a passar as fazendas por contrabando.
2º. Devem estabelecer-se os direitos maiores nos gêneros de grande volume, nos quaes ha maior difficuldade de esconder e passar por alto.
3º . Deve-se estabelecer no gênero estrangeiro, que ha ou pôde haver no paiz, um direito tal, que seja equivalente á sua melhoria comparado com o preço do gênero do paiz.
4°. Deve estabelecer-se uma regra geral de diminuição dos direitos, todas as vezes que o gênero for importado em navios nacionaes.
5º. Deve estabelecer-se o castigo do contrabando em multas pecuniárias proporcionadas ao importe das fazendas, e por-se este negocio em via de processo de justiça inalterável, aonde nao possa haver dispensas, nem favor de protecçaõ, applícando-se uma parte da muleta, maior que o valor da fazenda, ao denunciante, e apprehendor das fazendas.
Fig. 10 -  Moeda de 80 reis cunhada no Brasil, em 1813, circulava em todo Reino Unido de Portugal, África,  Brasil e Oriente.  A emissão e a cunhagem de moedas no Brasil não era novidade, pois elas foram praticadas pelos holandeses em Recife. Ao longo do período colonial lusitano isto aconteceu na Bahia, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.  O fluxo monetário aumentou com a elevação do Brasil ao Reino Unido e facilitava as tradicionais triangulações marítimas lusitanas e cambistas internacionais.
A simplificação da administração das alfândegas deve concorrer, naõ somente para o bom despacho e brevidade na execução, mas também para poupar muitos ordenados que saõ escusados.
A mesma simplicidade deve haver no Erário do Rio-de-Janeiro; e nas ramificaçoens deste Erário nas diferentes capitães das provincias, aonde uma Juncta da Fazenda composta de tres Membros he bastante, havendo os escriptarios correspondentes, os quaes mandarão cada trez mezes para o Erário do Rio-de-Janeiro uma conta corrente da receita e despeza, segundo formulas impressas; aonde se dividam em secçoens os diferentes artigos de receita e despeza. Estas contas parciaes, se formarão em uma conta geral, segundo as mesmas formulas impressas, todos os annos; de maneira, que no Erário se possa fazer uma idea clara dos rendimentos da naçaõ em cada um dos impostos ; e assim se poderá facilmente ver quanto he preciso augmentar os tributos, para que cheguem para ás despezas ; e igualmente quaes saõ aquelles tributos que podem sofrer augmento.
Fig. 11 -  A introdução da imprensa régia no Brasil tinha por objetivo maior a imprensa oficial e a coordenação dos serviços públicos por meio de um instrumento único, idêntico e confiável.   O número e o fluxo  dos documentos oficiais  aumentava com a elevação do Brasil ao Reino Unido.  Aumentava os documentos impressos destinados para Portugal, África, Oriente e as longínquas províncias do Brasil. As notícias populares continuavam a ser manuscritas ao estilo dos “pão-por-deus” ou dos “pasquins” do passado.

Com este arranjamento das formulas impressas, haverá um só Erário, unidade de trabalhos, identidade nas contas, diminuição dos empregados, e clareza nas repartiçoens.
Quando o Erário estiver arranjado com esta clareza, todas as vezes que se der ordem para qualquer pagamento em uma das capitanias, ja se saberá d'onde deve sahir o dinheiro para esse pagamento, que ou deve ser augmentando um tributo ali; ou sacando letras sobre o Erário do Rio-de-Janeiro, as quaes sendo promptamente pagas passarão como moeda corrente. O modo mais fácil de executar este plano he, que as letras sejam sacadas sobre o banco, e como o Erário pelo seu arranjamento deve saber as letras, que se espera que sejam apresentadas, ter promptos no banco os fundos necessários para o seu pagamento.
Este breve esboço dará a conhecer, quanto se pôde poupar em ordenados, havendo as formulas das contas todas impressas, e fazendo-se os pagamentos por meio do Banco.
Fortaleza de São José do AMAPÁ   https://www.youtube.com/watch?v=gDoMrkXzklc
Fig. 12 - O denso e continuado rosário de fortes e de fortalezas que cercavam a colônia brasileira deixou vestígios em todas as fronteiras marítimas ou terrestres. No ato da Abertura dos Portos do Brasil estes fortes ganhavam um novo sentido. Com a elevação do Brasil ao Reino Unido deixavam a prioridade e desestímulo para eventuais piratas avulsos e apátridas. Com a presença de naus de outras nações estas fortalezas assumiam o papel de baluartes que protegiam o fluxo das  triangulações marítimas entre Portugal, Brasil e Oriente aumentava.

Exercito.
Ha certos ramos da arte militar, que exigem um estabelecimento constante em tempo de paz, a fim de que se naõ esteja de todo desprovido em tempo de guerra. Tal he o corpo de engenheiros, os artilherios, as fundiçoens, os arsenaes, &c.  Mas para conservar estas artes, bastam as guarniçoens das fortalezas, das cidades, e villas marítimas; e as milicias, em um bom pé, com alguma infanteria de linha, constituíram   fundo de exercito sufficiente, para se poder augmentar segundo  as necessidades occurrentes o exigirem.
A despeza, por tanto, do exercito, em tempo de paz, deve reduzir-se a mui pouca cousa, sem que se abandone inteiramente a terrível, mas necessária arte de fazer a guerra. Sabe-se muito bem os presentes, que se fazem para obter patentes de officiaes de milicias, &c. Haja pois a prudência, de obviar que se dem taes presentes, e em lugar delles dèm-se os regimentos, e companhias, a pessoas que possam e queiram incorrer nas despezas de certos estabelicimentos relativos á conservação destes úteis corpos de tropas.
Fig. 13 -  Cada porto do reino colonial lusitano era, de fato, uma fortaleza guarnecida. As naus eram castelos flutuantes, a continuação e a afirmação do projeto colonial europeu na Africa, àsia e América. Com o advento das comunicações e dos recursos  da era industrial este projeto perdeu a sua logística.  As nações que acumulavam riquezas, materiais e gente qualificada passaram a contornar e aruinaram esses quistos arcaicos.

Marinha de Guerra.
A extensa costa do Brazil requer indispensavelmente uma marinha de guerra; ja para protecçaõ dos portos em tempo mesmo de paz, ja para vigiar os contrabandos, ja para comboyar os navios de commercio, e ja finalmente para ter um fundo de officiaes para o caso de alguma guerra.
Porem nao consiste a conservação dessa marinha, cm ter um Estado-maior excessivo, e uma lista de Almirantes, Vice-almirantes, Capitaens de Mar-guerra, &c. &c. absolutamente desproporcionada aos vasos de guerra que tem o Governo. Este gasto supérfluo deve diminuir-se, e nelle pôde recahir grande economia. Temos repetidas vezes dicto, que o Brazil deve ser uma Potência Marítima, e portanto he necessário que possua uma grande esquadra; mas isto naõ he dizer, que deve ter um grande numero de officiaes de marinha sem emprego.
Fig. 14 -  A Abertura dos Portos do Brasil, em 1808, exigia o apoio direto e atento de um corpo de militar especifico para cuidar diuturnamente do patrulhamento, defesa e eventual ataque. Este ataque aconteceu já em 1809 quando os Fuzileiros Navais brasileiros foram incumbidos de tomar Caiena e empossar um governo lusitano de ocupação da Guiana Francesa.  Desestimulavam, com este ataque e tomada exitosa,  qualquer pretensão napoleônica na América onde se refugiara a corte lusitana..

Em tempo de paz a marinha de guerra naõ pôde ter outro emprego senão nos paquetes, nas guarda-costas, e n'uma esquadra contra os piratas do Mediterrâneo. Para este serviço naõ se precisão officiaes de alta graduação; e os de menor graduação até Primeiros Tenentes, devem ter permissão de ir commandar navios mercantes de certa grandeza, e contando-se. lhe no entanto a sua antiguidade
Alegoria do regresso de D. João VI do Brasil – 1816 por Máximo Paulino dos Reis (1781-1866),
Fig. 15 -   A imagem de 1816 cujo sentido foi frustrado pela permanência de Dom João VI  no Brasil. Frustração portuguesa que acirrava os ânimos incapazes de se unir num pacto nacional único e linear. A elevação do Brasil ao Reino Unido igualava o Brasil a Portugal que se percebia cada vez mais impotente e o forçava a recorrer ao mundo simbólico arcaico de Dom João VI metido em armadura medieval como da imagem acima.

Exercito Portuguez.   [ p. 135]
Depois de termos publicado os regulamentos das tropas para o tempo de paz, nos chegaram de Lisboa algumas notas a esse respeito, que achamos mui sensatas.
He necessário convir em que os soldos saõ arbitrados demasiadamente baixos. Os officiaes naõ podem viver com taõ módicos estipendios: literalmente haõ de morrer de fome; e os seus serviços saõ taõ conspicuos, e taõ frescos na memória de todos os Portuguezes, que se naõ pode olhar para este arranjamento sem grande pezar.
Se as rendas da naçaõ naõ chegam para sustentar grande exercito em tempo de paz, mantenham-se menos tropas; mas, em nome da gratidaõ, desse a esses que se conservarem bastante para viver, e sufficiente para suportar a dignidade, que compete á sua graduação.
As milicias custam pouco, e podem servir de muito: aqui tem o melhor excercito de reserva; e persuadam-se os que governam, que pagar mal a quem serve, he a peior economia que se pode escogitar: quem naõ pode ter dous creados tenha um; mas pague.lhe quanto basta, para que elle sirva gostoso.
AQUEDUTO das ÁGUAS LIVRES - Alcântara -  Portugal  - Gravura aquarela inglesa 23 x 32.5 cm
Fig. 16 -  A manutenção dos equipamento públicos foi uma tarefa que passou pata 2º plano diante da emergência da Guerra e a ausência da corte refugiada no Brasil. Se a elevação do Brasil ao Reino Unido aumentava o fluxo das tradicionais triangulações marítimas entre Portugal, Brasil e Oriente aumentava com a presença de naus de outras nações.

Impossível recompor as circunstâncias e condições do governo de Portugal anterior a 1808. Dom João VI partiu, de Lisboa,  como Príncipe Regente de um regime monocrático e retornou como rei de um regime constitucional que ele havia jurado no Brasil. Brasil que acordava para a sua soberania depois da ocasião de se surpreender com as suas competências após três séculos da sua heteronomia colonial.
Impossível também mitificar o posterior Regime Imperial Brasileiro e no qual alguns percebem uma nação pujante, rica e próspera. Estes idealistas, ao mitificar o período imperial brasileiro, esquecem  que a escravidão foi legal no Brasil até as vésperas do Regime Republicano. Escravidão que comprometeu qualquer sanção moral desta força de trabalho, acumulação e circulação do poder monocrático agrilhoado aos pés do trono. Este sistema é impossível perpetuar. Mais cedo ou mais tarde entra em contradição e colapso
Estes mistificadores deixam-se contaminar pelo espírito “FIM de SÈCULO”. Espírito temerário de eventos triunfantes que tiveram de serem pago com suor, lágrimas e sangue  na demolidora contradição e no sangrento colapso provocado  pela I Guerra Mundial.
Evidente que é possível compreender as dúvidas e as naturais hesitações daqueles que estavam envolvidos num período tão difícil, delicado e as escolhas pontuais e rápidas diante da nova era industrial. Os interesseiros só emperram, aniquilam e desqualificam qualquer pacto nacional por meio das suas intrigas. Combatem o regime republicano esquecendo o regime vigente, nesta época, nos Estados Unidos e onde suas ideologias imperiais seriam vistas como medievais.
Em janeiro de 2015 persiste falta de um pacto político, econômico e social brasileiro.  As saudades subliminares e práticas dos piores regimes e da mais abjeta escravidão despontam, em pleno século XXI.  As piores pragas dos seus aproveitadores renascem incrustrados neste frágil e corrompido inconsciente coletivo nacional. Pragas que tomam corpo, em janeiro de 2015, na emergência das mais escabrosas revelações ao redor da pilhagem econômica, política e social praticada em cargos da mais alta relevância estatal. Pilhagem política praticada no sistema eleitoral a mercê de “quem dá mais”, na economia e empresas.  Pilhagem econômica altamente lucrativa para os mediadores, atravessadores e tuteladores de empreiteiras e em nome do ícone da Petrobras. Pilhagens que esvaneceram todas as esperanças sociais erguidas pelos marqueteiros dos “lucros do pré-sal” como o ouro de Serra Pelada se esvaneceu sem deixar rastros além do suor, lágrimas e sangue do PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

A ALEMANHA e NAPOLEÃO BONAPARTE

ASTRONOMIA e FUGA de DOM JOÃO VI

CHÀ em REGISTRO no VALE do RIBEIRA- SP - BRASIL

Dom JOÃO VI CONTRAIA o ALTO CLERO  LUSITANO e INDICA o Pe MAURÍCIO

FINANÇAS do  BRASIL com DOM JOÃO VI

FUZILEIRO NAVAIS

ICONOGRAFIA – DOM JOÃO VI
Palácio da Ajuda

MITIFICAÇÃO do REGIME IMPERIAL

NUMISMÀTICA do BRASIL

REINO UNIDO PORTUGAL ALGARVES BRASIL

 IMAGEM da REGÊNCIA e REINO de Dom JOÂO VI e Dom PEDRO I
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este material é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a formação histórica deste idioma.

Referências para Círio SIMON








Nenhum comentário:

Postar um comentário